De pára-quedas

Wilson Correia

Estou sendo severamente admoestado, chamado a atenção, pelo pessoal do PT, por eu ter, há poucos dias, manifestado publicamente meu apoio à Karina Silva e a César Mercês. E que argumentos eles inserem nessas reprimendas, nesses puxões de orelha? Os de que: não nasci em Amargosa, não vivi a história da cidade e caí de pára-quedas aqui nessas eleições.

Por esses três motivos, segundo os petistas, eu estaria impedido, proibido mesmo, de exercitar meus direitos políticos e de cidadão no município que, desde janeiro de 2010, é o meu domicílio eleitoral.

A perseguição a mim tem sido implacável desde que aqui cheguei e, agora, intensifica-se por conta da minha determinação de vivenciar aquilo que minha consciência cidadã me pede. E, segundo esses petistas que me abordam, caso o PT venha a ganhar, essa perseguição será ainda mais vigorosa e insuportável para pessoas que, como eu, ousam andar com as próprias pernas e se orientar segundo as próprias cabeças. Paciência! Se há um preço a mais a pagar, que ele seja bem-vindo! Prefiro essa conta a me vender, a me entregar, a me render.

De fato, não nasci em Amargosa. Sou mineiro de Campos Gerais, Sul de Minas Gerais. Com noventa dias de idade, minha família se mudou para o Paraná, em busca de melhores condições de vida. Naquele Estado, vivi até minha adolescência, quando retornamos a Minas porque tivemos nosso pequeno pedaço de terra grilado por uns senhores latifundiários que por lá se enriqueciam de forma ilícita. Expulso do Paraná por poderosos ladrões, nem bem pisei Minas Gerais e um ano depois me mandei para São Paulo. Em seguida, para Goiás. Depois retornei a São Paulo, sempre procurando estudar, com as minhas próprias forças, o que fiz do Ensino Fundamental ao doutorado, o qual cursei na Universidade Estadual de campinas, a UNICAMP.

Quem conhece o percurso formativo de quem escolhe a docência compreende o que estou dizendo. Compreende, também, que vim parar em Amargosa por conta de aprovação em um concurso público em uma universidade federal. Não caí aqui de pára-quedas, como dizem. Aqui estou como brasileiro militante da causa da educação, à qual dedico minha vida e todas as minhas energias.

Mas, na esteira disso, pergunto: Lula nasceu onde? Dilma nasceu onde? Jacques Wagner nasceu onde? O filho do atual prefeito de Amargosa nasceu onde? Fôssemos levar a sério esses argumentos dos petistas que me perseguem, essas pessoas que citei só poderiam viver seus direitos e deveres políticos nas respectivas cidades onde vieram à luz, e o filho de Valmir Sampaio não poderá, um dia, viver sua plena condição cidadã em Amargosa.

Os petistas não se deram conta de que, graças à luta do povo, Amargosa, hoje, conta com uma universidade, razão pela qual a “Cidade Jardim” tornou-se receptiva, que acolhe pessoas de todas as partes do Brasil e que pode e deve estar aberta a pessoas de quaisquer partes do mundo. É por isso que estou aqui e, queiram ou não, é aqui que tenho de ser cidadão. Como muitos outros que, de fora, também apóiam abertamente o PT.

Quanto a viver a história de Amargosa, digo que: assim com um médico não precisa ter sido acometido por um câncer para curar essa doença, também não preciso ter vivido a história de Amargosa para saber no que ela consiste. História vivida é memória oral ou escrita e dessas, para desgosto de quem quer o contrário, estou suficientemente inteirado para saber onde estou e o que devo fazer nessas terras.

A história não caminha para trás. É para frente que povos, comunidades e coletivos humanos andam e fazem suas próprias vidas. Hoje, no presente, por força do que eu disse antes, faço parte da história de Amargosa. Dela quero participar. A lei me faculta isso. A ética me pede isso. A cidadania me exige isso. A isso respondo positivamente.

Desse modo, não vou me intimidar com nenhum discurso ou ação excludentes, xenofóbicos. Aliás, esse discurso é criminoso, hediondo, abominável. Ele não pode ser tolerado porque brota de mentes e corações intolerantes, os quais pensam apenas nos próprios umbigos, esquecendo-se da universalidade das manifestações diversas e diferentes de vida. Denuncio e reprovo, com todas as minhas forças, essa forma intolerante de abordar irmãos brasileiros que, por conta da história de vida e de formação, encontram-se nesta cidade universitária (aberta ao universo) que é Amargosa.

E, para desgosto desses meus concidadãos petistas incomodados comigo, infelizmente contaminados por essa lamentável forma de excluir seres humanos, reafirmo, aqui, minha opção nestas eleições: meu apoio é para Karina Silva e para César Mercês. Tenho certeza de que eles farão de Amargosa uma cidade aberta, livre de perseguição, intolerância e exclusão. Eles farão de Amargosa uma cidade realmente universitária: com qualidade de vida, pacífica, linda, mais humana, simples, justa e feliz.

Que os valores femininos, de mãos dadas com os valores masculinos, nos ensinem a convivência harmoniosa que concorra para a nossa ampla, plena e irrestrita realização.

Amargosa, 31 de agosto de 2012.

Prof. Dr. Wilson Correia

Professor Adjunto de Filosofia da Educação do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia em Amargosa.