Mora em mim...

Porque não morre em mim

Essa maldade insaciável de te ver bem longe

Toda liberdade foi rasgada da página do livro que vivo hoje

Derrubaram a última ponte por onde sonhei passar

Calaram a música que eu ouvia e dançava com estranha loucura

Emudeceram os protestos cadenciados que batiam em meu coração

Onde anda as tardes furtivas em que eu corria pela chuva da tarde?

Escondeu-se por acaso de mim essa tal liberdade?

Como ela se vestia já nem lembro mais, sei que eu a despia

Eu encontrava comigo sempre que queria, o tempo me embalava

Soprava um bafo quente e úmido sempre que eu rolava na areia

Para que sandália se eu posso caminhar nas nuvens sem cair?

Roubaram o último panfleto que eu tinha guardado de lembrança

Do último encontro sobraram parcas lembranças apagadas pelos choques

Trocaram minha sensatez por absurdos prazeres burgueses

Compraram meus ideais por meras promessas do sistema

Eu tinha preço e nem sabia...

Todos os meus erros moram em mim.

PS: Pelos sentimentos que me restam de lucidez, escrevi não para amenizar a minha culpa, porque sou uma parcela viva do que está acontecendo no nosso país. Fui levada pelo sistema assim como tantos. Escrevo para me condenar, para me denunciar por ficar muda durante tanto tempo, por me deixar enfeitiçar pelas correntes douradas do sistema que rege o mundo em que vivo hoje. Escrevo para me declarar culpada, mais ainda para dizer que estou retirando o véu que me cegou durante tanto tempo.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 11/09/2013
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