Seu abraço é feito de quê? Relacionamentos... a todas as pessoas que só abraçam, se...

Desconfio sempre dessa crença de que se educa alguém pela carência: se você não mudar, se você não fizer, se você... você não ganha o meu abraço. E você, quando o seu filho, a sua esposa, o outro lhe cobra um abraço, um carinho, você, com toda a sua sabedoria, do alto do seu posto, informa que o seu abraço não vem porque o outro não o merece. Assim passam-se os anos, e você vai negando o carinho, vai guardando para si a sua preciosa dádiva: o outro ainda não a merece; só quando ele mudar. Você vai passando a vida com seu sábio ensinamento... às avessas. É, porque o outro não aprende. Ele vai aprender algum dia? Ou será que você é que não tem afeto a dar? Você é muito ocupado com essas besteiras de abraços, não é?

Desconfio também de que em toda a sua vida, ou, pelo menos, na sua infância faltaram-lhe carinho e toda e qualquer forma ou manifestação de afeto; pensavam que lhe ensinavam e criaram esse ser, quase monstro, incapaz de enxergar e aplicar a pedagogia do amor. Você sabe o que é afeto? Esse seu gesto _ de cruzar os braços, como se eles fossem de ouro ou mesmo de algum metal vil _ é o de um mestre, um pai, um marido bondoso? Há misericórdia em seu sempre mesmo procedimento?

O que é de um professor, um pai, um marido que não enxerga a dureza de seus atos, que não volta atrás, que não reconhece o próprio erro? Você vai aprender quando? Vai morrer com seus braços secos, duros, que nunca foram capazes de enrodilhar-se espontaneamente, sem que lhe pedissem? Beijos guardados em uma boca endurecida, envelhecida, ressequida, incapaz de arredondar-se num ósculo fraterno, filial, conjugal? Ah, sim, no dia-a-dia, você não tem tempo, você tem que trabalhar, dormir para descansar, porque no outro dia tem o batente; fica mesmo para o fim de semana, e os outros seguem aguardando que você vire gente, saia dessa sua soberba e arrogância, porque no fim de semana o seu afeto também não vem.

Decididamente, este não é o jeito de Deus, não é o que o Mestre Jesus lhe diria, se você O consultasse em suas reflexões. Mas você também não reflete, você, se fecha os olhos, dorme. Ah, menino grande, quanto afeto lhe faltou! A vida foi dura com você, e você não aprendeu nada! Vai continuar no seu trabalho e só por um milagre, porque você não aceita terapia, só mesmo por uma guinada da vida você aprenderá, e tomara que aprenda. Do contrário, como vai chegar à frente de Deus?

Porque, na frente de Deus, o que vale é o que você deu. Você vai chegar de mãos vazias, porque o que se leva da vida é o que fomos capazes de dar. E você cobrou para dar beijos, para abraçar, você colocou preço, você quis fazer barganha, o seu abraço nunca saiu de graça, o outro nunca mereceu o seu envelhecido afeto. Os seus afetos foram todos abortados, nunca nasceram, nunca vingaram, você era importante demais, sábio demais, miserável demais, avarento demais, infeliz demais. Você errou todo o tempo, meu caro. Só que, se você está vivo, esta mensagem é para você. Deus permitiu que alguém lhe dissesse estas palavras. Vamos, não se demore, o filho que mais precisa é o que mais erra. Não vê o que falava o Mestre? Aquilo de ir atrás da ovelhinha desgarrada. Não vê que Deus foi generoso com você até hoje?

Porque no fundo você sabe que não houve bondade nenhuma em você. Você nunca foi mais santo que seu filho, que sua mulher, que o outro que você tentou, de modo errado e em vão, corrigir. Você despertou muito ódio; em outros momentos tiveram dó de você. Ódio e dó. Entretanto ainda você tem tempo. Você nunca teve abraço? Não é motivo para não dar. Vamos, comece. Chame o seu filho: _ Venha cá, o papai quer lhe dar um abraço.

Vá até onde está a sua esposa e dê-lhe um terno e longo abraço. Vá, você consegue. O Senhor, o Deus do Amor, quer que você seja gente. E você vai conhecer um mundo novo, um mundo em que pessoas imperfeitas vão sendo melhores quando dão e recebem carinho. Vamos, dê-se esse tempo, essa oportunidade, não deixe para começar amanhã, pode ser que não haja amanhã para você, para o seu filho, para a sua esposa. Vamos, abrace. Você precisa curar-se dessa sua dor de amor, isso que o impede de manifestar-se, de receber e dar carinho e afeto. Tudo se aprende nessa vida. Se você não sabe, respire fundo, abrace, peça desculpas, perdão. Quem precisa ser melhor dessa vez e quase sempre não é o outro, é você. E você ainda achava que era o outro.

Neusa Storti Guerra Jacintho
Enviado por Neusa Storti Guerra Jacintho em 30/03/2014
Reeditado em 01/04/2014
Código do texto: T4749982
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