A outra Metade
A Outra Metade.
Não sei porque, mas alguma coisa desperta em mim um sentimento, eu diria, frustrante. Olho pela janela de meu quarto e me sinto sozinha. Vejo na rua pessoas passando acompanhadas, umas de mãos dadas, outras abraçadas e eu aqui sozinha. Talvez não tanto pelo fato de estar sem ninguém por perto, mas, estar sem alguém em minha vida. Isso me deixa uma sensação de vazio, de solidão, de desprezo. Talvez muitas pessoas que estão acompanhadas possam sentir o mesmo que estou sentindo. Às vezes, por estarmos acompanhados não significa que estamos felizes com a situação e isso desperte em nós um sentimento de revolta de não preenchimento deste vazio. Mas o que nos leva a sentir essa necessidade de busca de realização? Nossa maneira de viver em sociedade, de sermos moldados para sermos tribais. O ser humano é o único animal que tem essa necessidade consciente de estar sempre enxergando alguém de sua raça por perto. Isso nos torna especiais, mesmo porque, nossos antepassados apesar de serem nômades, nunca sobreviriam se permanecessem isolados. Por isso fomos adquirindo esse sentimento de “duo uno” que nos mantém fiéis aos nossos sentimentos. Eu diria que fomos feitos em metades e devemos nos esforçar para encontrarmos a outra parte de nós mesmos para que se encaixem perfeitamente nos tornando num todo.
À medida que encontramos, diríamos a nossa cara metade, essa brecha existente em nossas vidas é preenchida pelo espaço ocupado pelo outro. As marcas de aderência que unem um ao outro vão se apagando com o tempo, transformando as duas partes num todo perfeito, sem emendas, sem arestas, sem uma mancha se quer. Com o passar do tempo essa superfície vai sendo polida e nasce sobre ela o brilho. É esse brilho que nas horas de dificuldades, de angústias, serve para direcionar o caminho, ainda que à envolta exista a escuridão. Mesmo que a jornada seja longa, cansativa e muitas vezes destrutiva, mas, quando se tem esse apoio é inerente a vitória.
Não só essa busca, diria pormenorizada, mas a busca de um ideal ainda que sacrifical, talvez impuro, mas ponderado e cognitivo do viver. Através dessa brecha aberta no espaço de nossa existência, podemos tocar o infalível, o inefável, o mórbido ainda que cruel, mas, nos transcenderia a uma nova dimensão. Completando assim o ciclo de uma existência, agora, mais do que nunca repleta de brilhantismo e saciedade de um viver transbordante de sabedoria. Dando-nos a certeza de que somos, maleáveis e sabemos absorver com grandiosidade os ensinamentos passados de geração em geração. Por isso a busca nunca cessa, porque, quando o ciclo se completa, inicia-se uma nova caminhada ainda que em uma outra dimensão.
Ester Machado Endo.