Da água para o vinho (peça teatral)

Peça teatral: Da água para o vinho

Peça em 2 atos.

Cenário: sala de aula (primeiro ato)

sala dos professores (segundo ato)

Personagens: Givanildo (filho), Sofia (mãe), Leitícia (professora), grupo de professores (figurantes).

Sinopse: Givanildo, aluno de uma escola pública municipal, passa por algumas transformações. Aos 14 anos, está se envolvendo com "amizades" perigosas, que acabam por influenciar sua personalidade e seu desempenho escolar

Letícia, sua professora, tenta ajudar o jovem por meio de um desafiador diálogo com a mãe dele, Sofia. Juntas, mãe e professora buscam uma maneira de promover o bem-estar de Givanildo.

Primeiro ato:

Durante o encontro pedagógico, Sofia busca a professora de seu filho para conversar sobre o desempenho dele e se dirige à sala onde a professora Leitícia se encontra. Elas conversam sobre a situação do desempenho escolar de Givanildo, ressaltado seus aspectos cognitivo, afetivo e social.

Mãe: Bom dia. Sou a mãe do Givanildo. Queria saber como ele está na escola. A direção me chamou várias vezes, mas só pude vir hoje, por conta do meu trabalho. (Mostra-se ansiosa e apreensiva)

Professora: Bom dia, mãe. Seu filho está com algumas dificuldades. Eu mesma pedi que a direção a procurasse por duas vezes. Você procura acompanhar a vida escolar do Givanildo? (A professora percebe a aflição e o cansaço da mãe).

Mãe: Professora, eu procuro fazer o que posso. É só eu e ele, sabe? Trabalho o dia todo, e quando ele sai da escola, só dá tempo de a gente almoçar e eu voltar para o trabalho. O resto do tempo, ele passa na casa da vizinha ou da minha irmã, quando ela não está fazendo unha.(A mãe fala angustiada, se sentindo culpada).

Professora: Compreendo. Você e seu filho costumam ter um momento só de vocês? Têm algum tipo de lazer ou alguma atividade que gostam de fazer nas horas vagas?

Mãe: Eu não tenho muito tempo, não. Trabalho até sábado de manhã. De tarde, tenho que limpar e arrumar a casa. De noite, começo a lavar roupa. Meu domingo é para continuar a lavar as roupas e tentar descansar depois. Meu menino fica jogando no celular e falando no zap. Às vezes, ele sai com uns amigos. Dia de domingo, eles costumam combinar de ir para um igarapé. Ele sai de manhã e volta de noite. Como eu não tenho muito tempo, eu deixo ele sair com os amigos para aproveitar um pouco. Gosto mais quando ele sai com os primos, pois tem uns amigos dele que eu não gosto, sabe? Só falam na gíria, não ouvem a gente, são tudo mal educado. E fora que o Giva tem 14 anos e outros, 17, 18, 21. Eu falo pra ele deixar de andar com eles, mas não dá em nada. Alguns são mal-encarados, sabe? Vivem falando palavrão. (Mostra-se revoltada com os amigos que o filho escolheu)

(A professora respira fundo e, compadecida da situação, fala calmamente)

Professora: Mãezinha, eu imagino o quanto sua vida é atarefada e sei que é difícil dar conta de tantas coisas sozinha. Mas você precisa ajudar seu filho. Como eu disse, eu pedi para chamá-la duas vezes. Eu verifiquei que seu filho, de dois meses para cá, tem sofrido uma queda no rendimento escolar. Ele tem faltado algumas vezes, outras, tem se ausentado da sala. No início do ano, ele estava motivado, fazia as atividades, participava, entregava os trabalhos no prazo. A ficha dele,na sala de leitura, dava gosto de ver. Ele conversava comigo e lia os livros que eu indicava. Era um bom aluno e se esforçava para superar as dificuldades na grafia e na leitura. Mas, nos últimos meses, ele tem mudado muito. Se fechou, começou a sair muito da sala, mudou o estilo do cabelo, começou a incomodar algumas meninas, tentando assediá-las. Ele nem me entrega mais as atividades, nem mostra o caderno. Há aulas em que ele nem copia nada do quadro.

(A mãe, envergonhada, sente vontade de castigar o filho)

Mãe: Égua do pequeno! Acho que vou dar é uma surra nele. Ele chega em casa me dizendo que tá tudo bem na escola e que a direção me chama para conversar sobre a falta de ônibus. As faltas dele são por esse motivo. Tem três semanas que o ônibus não passa. Mas essa questão de não fazer os tranbalhos, eu não sabia, não.

(Delicadamente, a professora explica o que realmente acontece)

Professora: Mãe, a questão do transporte já foi resolvida e os ônibus estão passando normalmente há duas semanas. Quanto a dar uma surra, penso que não é o caminho. Seu filho precisa de você. Dedique um tempo ao relacionamento de vocês.

Mãe: Mas eu já faço tudo: compro roupa, compro caderno, dou celular caro. Eu não sei o que fazer. (Comenta em tom de desesperança)

Professora: Qual foi a última vez que se divertiram juntos? Qual foi a última vez que tiveram um momento de carinho?

Qual foi a última vez que conversaram sobre a vida, sobre seus sonhos?

(A mãe respira fundo, faz uma longa pausa e tenta se lembrar dos raros momentos que passa com o filho)

Mãe: Égua, nem me lembro! Faz tempo que eu não saio com ele. Nunca mais a gente se abraçou. E, pensando bem, a gente nunca chegou a conversar sobre a vida e os nossos sonhos. Sabe, a senhora falou disso agora e me lembrei do tempo que eu me deitava na rede com ele e a gente dividia o fone de ouvido para ouvir música. Era tão bom ficar abraçadinha com ele! Faz tanto tempo...

(A mãe se emociona ao lembrar e chora. A professora, preocupada, busca meios de ajudar a família)

Professora: Mãe, seu filho precisa de ajuda. Percebi a influência de amizades ruins. Ele tem se relacionado com jovens bem mais velhos, que têm comportamentos inadequados. É como se seu filho procurasse a aceitação de alguém e quisesse se enturmar com esses jovens para crirar a própria identidade e ser valorizado. A adolescência é um período de muitas mudanças e é necessário ter uma pessoa que seja uma espécie de refência, para que os adolescentes se sintam seguros e bem orientados. A situação de seu filho é grave. Ele está se envolvendo com caminhos perigosos. Seu jeito de vestir, de falar e até de cortar o cabelo mudou radicalmente. Ele só se senta nas últimas carteiras, mexe no telefone algumas vezes e, quando chamamos atenção dele, sempre faz pouco caso. Para piorar, ele anda riscando o caderno, a carteira e as paredes das salas e dos banheiros com 100% vida loka, 157, folha de maconha, armas entre outras coisas.

Veja essas folhas que eu retirei do caderno dele. Isso é um indício de que as companhias dele são perigosas.

(A mãe recebe o papel e, desesperada, o bate contra o peito e chora amargamente)

Mãe: Meu Deus! Já não sei o que eu faço. Me ajude,por favor.

(A professora segura firme nas mãos de dona Sofia, olhando profundamente em seus olhos e encorajando-a a lutar)

Professora: Estamos juntas nisso, tá bom? O trabalho da escola é desenvolver o talento e as competências do seu filho, de modo que ele seja um cidadão consciente, um profissional realizado e, principalmente, uma pessoa feliz. Incentive seu filho a fazer parte do Mais Educação. Ele realizará atividades no contra-turno, passará mais tempo com colegas de sala, monitores, professores e outos funcionários da escola. Isso fará bem a ele. No mais, procure aproveitar o tempo em companhia dele. Você trabalha no comércio?

(A mãe fica mais calma e ouve com atenção os conselhos da professora)

Mãe: Sim, trabalho num supermercado.

Professora: Sua carteira é assinada?

Mãe: É sim, é tudo direitinho. Tem mais de ano que trabalho lá.

Professora: Então procure tirar a carteira do Sesc. O Sesc promove muitas atividades e ainda há diversas opções de lazer, além de tratamento odontológico com preço acessível. Vocês podem ir ao clube no sábado ou no domingo. Lá tem salão de jogos, brinquedoteca, biblioteca, academia, lanchonete.

Mãe: Nem sabia disso. Vou procurar, sim. ( Sofia fica mais animada e dá um leve sorriso)

Professora: Então, dona Sofia, vamos fazer um trato: coloque o Givanildo no Mais Educação, o ajude nas tarefas escolares, acompanhe as atividades do caderno, compartilhe as responsabilidades da casa com ele. Crie uma lista com algumas tarefas e confie a ele. Deixe que ele arrume a própria cama, lave a louça, varra a casa e esquente o almoço. Ajudem um ao outro, assim tudo ficará mais fácil. Enquanto estiverem almoçando, ouçam uma música que os dois gostem. A senhora e seu filho precisam conviver mais. Você é a referência dele, não deixe que outra pessoa assuma o seu lugar. Acompanhe a frequência dele, compareça mais à escola. Converse com seu filho sobre a vida, os sonhos, os sentimentos. Ele é um adolescente e precisa de apoio. (Leitícia fala coim carinho e com muita esperança de que tudo fique bem)

Mãe: Obrigada, professora. Às vezes, eu me sinto muito só, sem ter com quem contar.(Sofia desabafa e se sente aliviada)

Professora: Como vai a sua vida espiritual? Você tem alguma filosofia de vida?

Mãe: Eu saí da igreja por falta de tempo. Meu filho participava do grupo de jovem, quando eu ainda frequentava lá.

Professora: Que tal alimentar sua fé novamente? Se vocês dois se ajudarem e organizarem o tempo e as tarefas, tenho certeza de que encontrarão uma forma de voltarem a cultivar a fé e conseguirão frequentar a igreja.

(Sofia sente o coração bater mais forte e deseja fazer o seu melhor)

Mãe: É verdade... eu preciso cuidar de mim e do meu filho, sabe? Meu trabalho me dá o sustento, mas é minha fé que dá sentido à minha existência.

Professora: Mãe, seja presente na vida de seu filho, pois ele é o presente que Deus lhe confiou. A Bíblia revela que os filhos são nossa herança. Sei que vocês vão superar tudo e estou aqui. Contem comigo no que eu puder ajudar.

(Leitícia abraça Sofia, que se sente fortalecida e pronta para agit)

Segundo ato:

Depois de 2 meses, a mãe procura a professora Leitícia na escola. Ao entrar na sala dos professores, Sofia é parabenizada pelo desempenho do filho em outras disciplinas. Vários professores a cumprimentam e ela fica feliz pelo filho. Leitícia acompanha tudo com o olhar e depois parabeniza a mãe novamente, informando sobre os avanços de Givanildo.

(Dona Sofia entra na sala dos professores, perguntando por Leitícia. Antes que ela termine de falar, a professora de matemática a reconhece e fala, alegremente, sobre a melhora de Givanildo. Outros professores e monitores do Mais Educação fazem o mesmo. De repente, o sinal soa e o intervalo termina. Os professores e monitores vão para outras salas, mas Leitícia continua na sala, a preencher suas cadernetas em sua hora-atividade. Ela faz uma pausa e chama Sofia para conversar. Sofia, emocionada, corre até a professora)

Professora: Olá, dona Sofia! Minha colega me disse que a senhora estava me procurando.

Mãe: Sim, professora. Procurei a senhora para agradecer pela conversa que tivemos. Meu filho mudou da água para o vinho! Graças a Deus, agora só recebo elogios. Eu consegui, com a ajuda dele, colocar as coisas em ordem. Até o nosso almoço é ele que faz, agora. Dá gosto de ver! Ele largou as más amizades, fez outros colegas no Mais Educação e se apaixonou por basquete. No fim de semana, a gente vai pro clube do Sesc e a gente se diverte na piscina. Voltamos para nossa antiga igreja e ele está no grupo de jovens. O caderno dele está bem organizado, com letra bonita e as páginas preenchidas. Meu menino só tira notão, professora! Estou toda orgulhosa. Obrigada pela sua ajuda.

(Ambas sorriem muito felizes)

Professora: Fico feliz demais por vocês! A ficha dele na biblioteca está maravilhosa! Ele tem lido muitos livros e a escrita está excelente. Eu agradeço, dona Sofia, por você fazer a diferença na vida do seu filho. Obrigada por ter comparecido às reuniões. Todo o esforço vale a pena! Givanildo está se destacando em tudo o que faz. Ele voltou

a acreditar em si mesmo graças à sua dedicação e cuidado. Cultive o relacionamento de vocês.

Mãe: Aqui tem uma cartinha dele para a senhora, professora. Espero que a senhora goste.

Professora: Obrigada, dona Sofia! Diga ao Giva que agradeço de todo o coração. Parabéns por cuidar do lindo presente que Deus lhe confiou. Ele é um menino de ouro!

(As duas se abraçam, dona Sofia vai embora e Leitícia, emocionada, lê a cartinha de seu aluno)

Eu era desguiado, 100% vida louca,

Mas vi que minha cultura ficou pouca.

Não dava o devido valor pra minha família,

Nem conseguia reconhecer o que minha mãe fazia.

Minha professora enchia o saco,

Mas eu não queria copiar do quadro.

Eu só queria pular o muro e gazetar,

Meu negócio era riscar, para a minga marca registrar.

Mas vi que isso não dava futuro, não.

Daí eu entrei para o Mais Educação.

Comecei a frequentar o contra-turno

E foi como se uma luz brilhasse no escuro.

Hoje sou o cestinha no basquete,

Tenho até fã-clube cheio de tiete.

Mando bem até nas disciplinas da escola:

Esse Mais Educação encheu a minha bola!

Hoje, eu sei bem o que quero da vida.

Não faço mais as coisas que são proibidas.

Respeito os limites, respeito meus semelhantes.

Tenho novas atitudes, já não sou mais como antes.

Só tenho a agradecer a você e à minha família,

Minha escola tem tudo o que eu mais queria:

Amigos de verdade, pessoas que me querem bem

E gente competente que, em tudo, mandam bem!

Oi, tia, beleza? Escrevi esses versos para agradecer por tudo o que fez por mim e minha família. Obrigado.

Ass.: Seu menino de ouro

(Leitícia chora de emoção ao ler a carta)

Professora: Esse Giva... sabe conquistar meu carinho! Meu meninão de ouro!

FIM

Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP)
Enviado por Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP) em 30/05/2017
Reeditado em 30/05/2017
Código do texto: T6013692
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