NECROFORIA

Não distante, em vetustos alicerces
De Agila, a belicosa Lídia gente
Fundou cidade nos Etruscos serros:
Florente prosperava, até que veio
Mezêncio, mau tirano a subjugá-la.
Por que assassínios tais e atrocidades Referirei?
Sobre ele e os seus recaiam!
Vivos ligava a mortos, contrapondo
Mãos a mãos (que tormento!) e boca aberta,
E em triste abraço a pútrida sangueira
Nessa agonia longa os acabava.
Lassos porém da infanda crueldade,
Munidos cidadãos cercam-no em casa.

Virgílio, na Eneida (canto VIII, versos 478-485)



Busquei a paz, busquei a liberdade
Em Cristo, o espírito está livre,
porém o corpo condenado com o pecado.
Sinto a punição putrefando a carne
A lei que combate em meus membros dia a dia
Os vermes nos meandros do meu corpo
Mãos com mãos... pés com pés… boca com boca
Um corpo morto amarrado na consciência,
como os verdugos piratas etruscos
fazendo a punição da necroforia.
Não é de agora, é de nascença
Um abraço amargo insano
O espírito pede Deus
A carne vaidosa pede prazer
Como um leão faminto
com os lábios a lamber,
como um político com usura
com facilidade a se corromper.
Sim, a nossa carne é corrupta
É aguçada para fazer o mal
É um embuste pesado para carregar
o homem espiritual.
Mas graças a Deus,
por amor em Cristo Jesus,
que Ele me livrará do corpo desta morte.


"Miserável homem que eu sou! quem me livrará
do corpo desta morte?" Romanos 7:24



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Nota: Necroforia é uma terrível punição à qual os
antigos eruditos atribuíam aos piratas etruscos.
Ê possível que aqui esteja na mente do apóstolo a imagem de uma prática horrenda antiga, em que um assassino, como castigo por seu crime, era amarrado face a face e membro a membro com a sua vítima. Até que, através do horror desse estado, 0 próprio assassino morria. Pelo menos é assim que pensam alguns intérpretes. Assim também é que Adam Clarke (in loc.), cita palavras de Virgílio a fim de ilustrar essa antiga forma de punição capital: e essa prática também era vista simplesmente como uma forma bárbara de tratar prisioneiros de guerra, como maneira de torturar um inimigo. Comentário do NT vol. 3 de R.N Champlin, p. 698.

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A morte da Morte (Morte, não te orgulhes)

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