Oigem da Inspiração
                        
Quando escrevi o soneto "MERETRIZ", minha amiga ELENITA R. CALLEIA, perguntou-me: "de onde veio a inspiração?
O que segue não se baseia em nenhum estudo científico de nenhuma área e, portanto, não o leve muito a sério.
O que segue é o que sinto.  Obrigado!


Creio que a inspiração de quem escreve vem da observação das coisas, do ambiente, da dinâmica da natureza, da capacidade pessoal do indivíduo de abstrair-se e de empatizar, fruindo desses momentos o que eles espontaneamente mostram (e que muitos não veem), e as sutilezas escondidas em suas entranhas.

A inspiração vem do alongamento do pensamento pelos confins do universo; imaginando mundos e fundos revelados ou calculados e/ou plotados pela ciência, sonhados ou inventados pelo escritor.

Vem da visão de uma "fotografia" do Hubble de uma nebulosa cujas dimenções ultrapassam os trilhões de anos-luz e dali sair montado em uma estrela, milhões de vezes maior que o nosso insignificante Sol e tentar entender ou mensurar a magnitude de Deus, a pequenez de nossa esfera e a  nossa humana insignificância.

Vem da observação de uma formiga lutando para levar uma folha enquanto outra puxa ao contrário e uma terceira vai em cima, fazendo o que não sei! Vem da água do regato que muda a todo instante, levando qualquer coisa que retirou de algum lugar incerto e não sabe onde vai deixar; Vem do vento, do rio, do mar... Da abóbada celeste com seus corpos tão distantes, desconhecidos, imensos e da nossa mente humana que consegue reduzi-los a objetos insignificantes para que caibam em nossa ínfima compreensão e percepção da realidade.

A inspiração vem de alguém visto na rua.  Vem de um andar bamboleante ou claudicante ou vacilante quer pela idade, infelicidade ou fatalidade!
Vem de um corpo sensual com um espírito sem sal. 
A inspiração vem de um pensamento fugaz, de uma situação audaz.
Vem de um chinelo velho, de uma convivência afetiva; de brigas e desavenças maritais; vem de sonhos sonhados acordado ou durante o sono. De desejos, decepções e de alegrias; vem da vida e vem da morte.

Quem se dispõe a escrever em prosa ou em verso, deve ter a mente aberta  para aspectos e temas jamais pensados e um conhecimento do idioma escolhido; pelo menos o suficiente para não esfaqueá-lo a cada parágrafo.

Quanto às MERETRIZES, minha querida amiga Elenita, eu revirei baús anteriores ao meu entendimento como criança e como adodolescente e nesses rincões eu vi, compartilhei e senti os dramas das moças-da-roça, "que se perdiam" e eram expulsas de casa por desonrarem a família e, abandonadas, via de regra iam para as cidades onde eram cooptadas pelas cafetinas donas de bordeis, que as treinavam na ate de seduzir cavalheiros somente "maiores de 18 anos".
Depois as vi serem achincalhadas e humilhadas, apontadas nas ruas, por damas da sociedade e mulheres de todas as classes, "todas" honestíssimas, venturosas, virtuosas, caridosas e religiosas.
Ví-as serem vilipendiadas pelos amigos, maridos e/ou filhos dessas mesmas damas. Todos adultos, adolescentes e pré, da cidade, cidadãos e cidadãs "honrados, honestos"; os hoje propalados pais-de-familia (como se isso lhes conferisse alguma imunidade),  tementes a Deus" e que, à noite, inundavam as "casas de perdição" (puteiros),  de onde voltavam para suas casas satisfeitos, saciados... reassumindo  sua condição de cidadãos de reputação ilibada, fiéis ás suas esposas, filhas, noivas, amantes e amigos(as).

As mesmas pessoas, homens e mulheres, que aos domingos lá estavam na missa das nove, de cabeça baixa(mulheres com véu), terço na mão, contritos e na maior cara-de-pau, vazando hipocrisia por todos os poros e oifícios do corpo.

A inspiração de MERETRIZ veio das putas(com todo o respeito e sem demérito a essa atividade) de minha infância e da minha adolescência e juventude. De quantas eu vi e de tantas de quem ouvi os queixumes, entre soluços e lágrimas que despejavam as mágoas e a saudade dos pais, dos irmãos a que foram obrigadas a deixar pela força de um patriarcado tirano, hipócrita e de um conceito de família (bem diverso do de hoje), onde a "honra da família" era um bem mais precioso que o acolhimento de uma filha.

E todos falam de perdão! Nunca leram ou ouviram a Jesus que dizia:

"ATIRE A PRIMEIRA PEDRA AQUELE QUE NÃO PECOU"!

MAURO PEREIRA
Enviado por MAURO PEREIRA em 18/04/2019
Reeditado em 24/08/2022
Código do texto: T6626909
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