Cor ou Sabor?

Cor ou Sabor?

Maria da Graça Almeida

Numa fruteira dourada,

em cima de larga mesa,

proseavam maçã e pêra

e gabava-se a primeira,

da grandiosa beleza!

De forma irritante,

exibia a cor lustrosa,

sentia-se importante

diante da pera chorosa.

- Oh! Como sou atraente!

Tenho a cor da formosura!

Pobre, perinha madura,

sua cor é feia mistura!

- Eu não sou vaidosa

e apesar de ter cintura,

realmente, em aparência,

não estou a sua altura!

- E nem há comparação,

sou a própria tentação!

Tanta gente tem costume

de usar o meu perfume!

- Na verdade, eu a admiro,

todos sabem que sou fã

da beleza e do perfume,

que tem você, ó maçã!

- Não lhe irei dizer o mesmo!

Você não é um primor!

O aroma pouco se sente,

tão desbotada é sua cor!

Em meio à prosa alongada,

achega-se uma visita!

Vendo a fruteira dourada,

comenta, assim, distraída:

-Tão bonita esta maçã!

A fruta, então, já corada

vibra mais envaidecida

ao sentir-se bem notada,

por uma desconhecida.

E continua a visita:

- Lá em casa, de maçãs,

ninguém gosta e com razão,

pois, apesar da beleza,

somos desta opinião:

com o sabor tão sem graça,

não há quem se satisfaça!

Já as pêras, mais modestas,

comê-las é uma festa!

Saborosas, suculentas,

uma só nos alimenta!

A maçã ruborizada,

retraiu-se acanhada

e desse dia em diante

não mais feriu a coitada!

Sentiu que cor e beleza

não eram significantes,

pois a moça com franqueza,

gabando o sabor da pêra,

julgara-a mais importante.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 20/03/2005
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