Os outros

Os outros erram. Nós, cometemos pequeninos equívocos.

Os outros são orgulhosos, vaidosos, se acham! Nós, apenas temos consciência do nosso valor.

Os filhos dos outros, são delinqüentes, mal educados e sem limites. Os nossos, são jovens impulsivos.

Os outros são maledicentes e sediciosos. Nós, fazemos críticas construtivas.

Os outros são ditadores e intransigentes. Nós, somos veementes na defesa de nossos pontos de vista.

Os outros são falsos, mentirosos e enganadores. Nós, omitimos alguns detalhes.

Os outros são dissimulados. Nós, políticos.

Os outros são avarentos e egoístas. Nós, econômicos.

Os outros são irônicos e sarcásticos. Nós, bem-humorados.

Os outros são grosseiros e ofensivos. Nós, dizemos a verdade, custe o que custar.

Os outros são preguiçosos, ineficientes e lerdos. Nós, respeitamos nossos limites.

A fé dos outros, é fanatismo. A nossa, convicção.

Os outros são teimosos. Nós, persistentes.

Os outros são o problema. Nós, a solução.

Os outros são acomodados e indolentes. Nós, resignados.

Os outros são desrespeitosos. Nós, irreverentes.

Os outros são a dúvida. Nós, a resposta.

... ...

Enfim, todas as mazelas estão nos outros, enquanto virtudes abundam em nós. Essa tola e cômoda “terceirização”, nos dá também a ilusão, de que as desgraças e desventuras só visitam a existência alheia. Assim nos tornamos individualistas, indiferentes, descuidados, omissos e negligentes. Esquecemos de uma coisa. Para todo o resto da humanidade, “outros”, somos nós.