No Meio-Fio do Fim.
Jogaste no lixo os planos, os beijos, o riso,
Mas teu cheiro ficou feito sina no ar.
A ferida virou meu abrigo, meu vício,
Amar-te doeu, mas do peito não dá pra arrancar.
O amor nos deixou sem fazer despedida,
Sumiu pela porta sem sequer acenar.
E eu, no meio-fio da minha própria vida,
sem entender, continuo a me perguntar...
Se foi descuido, desgaste, rotina ou castigo,
Ou se o amor só cansou de tentar.
Talvez fomos afago, mas não abrigo,
Dois corpos morando onde não havia lar.
Me pergunto onde foi que a gente se perdeu,
Se no profano ou no sagrado do sentir.
Meu peito grita, mas minha boca emudeceu,
Finge riso, enquanto a alma só quer fugir.
Você foi presente, remédio, agora é punhal.
Causa e efeito do meu próprio abismo.
Dependi do teu amor, tão febril, tão fatal,
Agora sou silêncio no teu próprio egoísmo.
Nostalgia é prisão de sonho inventado,
Fantasia que cega, que prende e disfarça.
Ficamos em nós até nos ver exaustos...
Agora só restam lembranças e saudade que não passa.