CASAMENTO

Só sei dizer de um tema começando da notícia mais remota. Meus filhos se impacientam e me pedem objetividade. Acontece que, quando sou objetiva, eles me interrompem e fazem perguntas que remetem justamente à Pré-História.

Para falar do meu casamento com o Recanto das Letras, tenho que me reportar ao momento da minha vida em que o computador era um bicho de setecentas cabeças e eu o detestava. Foi então que entrou em cena Seu Antônio, um digitador profissional, amigo e que há mais de quinze anos realizava trabalhos sob minha encomenda.

Curiosa sempre, era ele de um lado e eu do outro, de olho duro na tela, revisando textos. Tudo eu perguntava. Seu Antônio, que fez aí? Por que clicou aí? O que significa isto? E ele me ensinou muito. E assim segui misturando os meus conhecimentos sofríveis de datilografia com as lições do digitador. Depois de milhares de tentativas e pedidos de ajuda a filhos e a quem aparecesse, consegui entender alguma coisa. E, clicando e clicando fui aprendendo, melhorando.

Olhava extasiada a maravilhosa máquina e pensava na Literatura. Aprendi a entender o Google. Tudo colocava na barra, tudo perguntava. Anotei: sites de literatura e apareceu uma lista que me deixou tonta. Um nome veio à minha mente: RECANTO DAS LETRAS. Pois não é que existia o danadinho?

Fui preenchendo e completando as fichas. Retornava, deletava e recomeçava do zero. Não foi difícil. Muita praticidade foi o que vi. Até andei por outros sites e publiquei textos, inclusive em um similar espanhol. Estava maravilhada com a novidade e mais fiquei quando notei que imediatamente o texto aparecia publicado e com espaço para comentários. Passava quase o dia inteiro verificando e me deliciando com a opinião de pessoas que jamais sonhei existirem.

O tempo passando e eu entendendo mais e mais. Hoje penso o quanto desde criança achava bonito ter o nome na capa de um livro, não importava o tamanho ou o volume de páginas. Queria o meu nome na capa do livro já que na capa de uma revista seria improvável. Cabe, entretanto, um pouco de gabolice. Tive um namorado francês, mais bonito que Richard Gere e Brad Pitt juntos. Professor universitário e ex-piloto de Fórmula. Pois fiquem vocês sabendo que esse francês queria porque queria me fotografar no cenário da Praia 13 de Julho, entre as ramagens e junto às garças. Eu penso que era para combinar com minhas pernas finas. Essas fotos iriam para uma capa de revista francesa. Meu pai não aceitou, que lástima.

Àquela época em que eu pensava na capa do livro, ser publicado era algo muito difícil, como também o era consagrar-se cantor e ter um disco de vinil gravado. Velhos e bons tempos.

Acreditam vocês que o tesão do nome na capa acabou? Totalmente. Pode até ser que um dia pense nisto. Por agora estou bem ancha aqui na Internet, nessa Escrivaninha onde acabo de alcançar 60 mil acessos e tenho umas 500 páginas de comentários preciosos. E, de quebra, a novidade das fotos nos comentários, gostei demais. Ficou didático e até incentiva mais as visitas.

Agradeço ao site e aos meus amigos, colegas, leitores, pessoas muito queridas, muito mesmo. Estou muito bem casada e não sonho em separar-me desse casamento literário do qual já tenho uma prole imensa.