Gratidão

Me disseram que o poeta é um sofredor, que melhor se escreve quando o pior se sente e que somente com a alma ou o coração ferido é possível produzir pérolas, tal qual acontece com as ostras. Para eles, aconselho a não continuar a leitura, porque meu coração hoje está tomado por completa felicidade. Não falo da felicidade por ter encontrado um grande amor, ainda que o verdadeiro amor seja, de fato, razão de grande felicidade e consciente que até os que o negam, desejam, no fundo, encontrá-lo. Também não falo da felicidade que se sente quando se está numa festa, rodeado de amigos, ouvindo uma boa música, jogando conversa fora e contando piadas, ainda que sejam esses momentos que nos salvam das loucuras diárias desse mundo tão confuso. Também não falo da felicidade por ter um trabalho, mesmo sabendo que é mais feliz aquele que, de forma digna, luta para prover seu sustento e de sua família. Tampouco falo das felicidades efêmeras: dos presentes, das paqueras, do saborear do prato favorito ou de se fazer uma viagem, ainda que todas elas nos dêem prazer.

Falo de felicidade plena, aquela que se sente quando se descobre que a vida é breve, mas que ela continua. Falo da felicidade por crer que hoje é o melhor dia do resto de nossas vidas e sendo o melhor dia, é possível fazer planos. Sim, há um futuro pela frente: um dia, um mês, algumas décadas, talvez? Mas quem é que tem certeza?

Falo da felicidade pelo passado ser exatamente o que é: passado, lições, crescimento aprendizado.

Falo da felicidade do momento presente por ser exatamente o que é: presente, dádiva, milagre.

Falo simplesmente da felicidade pelo dom da vida, porque viver é o grande desafio e também a plena felicidade.