DILEMAS que fazem versos...

Reflexões e repensares...
Quando fechamos os olhos...
Perdemos o brilho das estrelas!

Quando fechamos
Janelas e portas da alma
Nos fechamos para a vida!

Semeadores que “dormem”, perdem o plantio!

Não há “colheitas” sem “sementes”!




NEU*, uma ponte, mediando saberes.


As Ciências Biomédicas, os Doutores, o Espiritismo e os Cegos de Nascença.

Luiz Carlos D. Formiga

Um estudante simpatizante da Doutrina Espírita compareceu a uma de nossas reuniões, no embrionário Núcleo Espírita Universitário do Fundão, na UFRJ, e depois nos procurou no corredor para confidenciar que não conseguia conciliar a justiça e a bondade de Deus, com o nascimento de crianças com AIDS. É desta forma que termina o capítulo “Aids - Uma Reflexão Espírita da Justiça”, do livro “Dores, Valores, Tabus e Preconceitos”. A pergunta nos lembrou o capítulo III, do O Livro dos Médiuns (2), primeira parte: “o melhor método de ensino é o que fala à razão antes que aos olhos”.


Ao redor do Núcleo Universitário a população é heterogênea. Vamos encontrar diversos comportamentos.

Materialistas e incrédulos.

 

Para os materialistas por sistema o homem é simples máquina. Felizmente, seu número é restrito e não formam escola confessada; são ricos de orgulho e persistem negando o fenômeno, não obstante todas as provas em contrário. Encontramos uma classe onde a incerteza lhes é um tormento. Há neles uma vaga aspiração pelo futuro, mas esse futuro lhes foi apresentado com cores tais, que sua razão se recusa a aceitá-lo. São os náufragos a procura de uma tábua de salvação; são apenas indiferentes. Os incrédulos de má-vontade não querem ver perturbada a inclinação que sentem para os gozos materiais. Outros sabem muito bem o que devem pensar do Espiritismo, mas o condenam por motivos de interesse pessoal; são os incrédulos por má fé ou por escrúpulos religiosos. Os incrédulos por decepções, passaram de uma confiança exagerada à incredulidade, porque sofreram desenganos. São o resultado do estudo incompleto e da falta de experiência.


Espiritualistas e espíritas.

 

Os espiritualistas por princípio são os mais numerosos, possuem vaga intuição das idéias espíritas. O Espiritismo lhes é como que um traço de luz livrando-os das angústias da incerteza. Encontramos ainda os que possuem o sentimento inato dos grandes princípios decorrentes da Doutrina dos Espíritos. Diante do inusitado fenômeno mediúnico muitos acabam se rendendo e se tornam estudiosos. No entanto, mesmo aí encontramos comportamentos diferentes. O Espiritismo é, para alguns, apenas uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos e se tornam apenas espíritas experimentadores. Outros vêem mais do que fatos; compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Há os que depositam confiança demasiado cega e freqüentemente pueril, no tocante ao mundo invisível, e aceitam sem verificação diversos absurdos; graças à sua boa-fé, são iludidos por homens e por Espíritos mistificadores. Os verdadeiros espíritas não se contentam com o “admirar a ética espírita”, colocam-na em pratica e lhe aceitam todas as conseqüências.

 

Esses comportamentos podem ser encontrados entre os contemporâneos de Jesus. No livro onde Allan Kardec discute os milagres e as predições segundo o Espiritismo (3), encontramos o caso do cego de nascença, no capítulo XV - Os milagres do Evangelho. Após a cura, e oferecendo o seu testemunho, aquele homem simples não se intimidou diante das pressões sofridas. Na linguagem deste cego vamos encontrar o pensamento desses homens, nos quais o bom-senso supre a falta de saber. Isto não os impede de retrucar com bonomia aos argumentos de seus adversários, expendendo razões a que não faltam justeza, nem oportunidade. No entanto, o tom dos fariseus é o dos orgulhosos que nada admitem acima de suas inteligências e que se enchem de indignação só à idéia de que um homem do povo lhes possa fazer observações. Guardadas as devidas proporções, dir-se-ia ser do nosso tempo o fato. Vamos recordar.

 

“Ao passar, viu Jesus um homem que era cego desde que nascera; — e seus discípulos lhe fizeram esta pergunta: Mestre, foi pecado desse homem, ou dos que o puseram no mundo, que deu causa a que ele nascesse cego? — Jesus lhes respondeu: Não é por pecado dele, nem dos que o puseram no mundo; mas, para que nele se patenteiem as obras do poder de Deus. Tendo dito isso, cuspiu no chão e, havendo feito lama com a sua saliva, ungiu com essa lama os olhos do cego — e lhe disse: Vai lavar-te na piscina de Siloé. Ele foi, lavou-se e voltou vendo claro. Seus vizinhos e os que o viam antes a pedir esmolas diziam: Não é este o que estava assentado e pedia esmola? Uns respondiam: É ele; outros diziam: Não, é um que se parece com ele. O homem, porém, lhes dizia: Sou eu mesmo. — Perguntaram-lhe então: Como se te abriram os olhos? — Ele respondeu: Aquele homem que se chama Jesus fez um pouco de lama e passou nos meus olhos, dizendo: Vai à piscina de Siloé e lava-te. Fui, lavei-me e vejo. — Disseram-lhe: Onde está ele? Respondeu o homem: Não sei.

 

Levaram então aos fariseus o homem que estivera cego. — Ora, fora num dia de sábado que Jesus fizera aquela lama e lhe abrira os olhos. Também os fariseus o interrogaram para saber como recobrara a vista. Ele lhes disse: Ele me pôs lama nos olhos, eu me lavei e vejo. — Ao que alguns fariseus retrucaram: Esse homem não é enviado de Deus, pois que não guarda o sábado. Outros, porém, diziam: Como poderia um homem mau fazer prodígios tais? Havia, a propósito, dissensão entre eles. Disseram de novo ao que fora cego: E tu, que dizes desse homem que te abriu os olhos? Ele respondeu: Digo que é um profeta.

 

— Mas, os judeus não acreditaram que aquele homem houvesse estado cego e que houvesse recobrado a vista, enquanto não fizeram vir o pai e a mãe dele — e os interrogaram assim: É este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora vê? — O pai e a mãe responderam: Sabemos que esse é nosso filho e que nasceu cego; — não sabemos, porém, como agora vê e tampouco sabemos quem lhe abriu os olhos. Interrogai-o; ele já tem idade, que responda por si mesmo.

 

Seu pai e sua mãe falavam desse modo, porque temiam os judeus, visto que estes já haviam resolvido em comum que quem quer que reconhecesse a Jesus como sendo o Cristo seria expulso da sinagoga. — Foi o que obrigou o pai e a mãe do rapaz a responderem: Ele já tem idade; interrogai-o.

 

Chamaram segunda vez o homem que estivera cego e lhe disseram: Glorifica a Deus; sabemos que esse homem é um pecador. Ele lhes respondeu: Se é um pecador, não sei, tudo o que sei é que estava cego e agora vejo. — Tornaram a perguntar-lhe: Que te fez ele e como te abriu os olhos? — Respondeu o homem: Já vo-lo disse e bem o ouvistes; por que quereis ouvi-lo segunda vez? Será que queirais tornar-vos seus discípulos? — Ao que eles o carregaram de injúrias e lhe disseram: Sê tu seu discípulo; quanto a nós, somos discípulos de Moisés. — Sabemos que Deus falou a Moisés, ao passo que este não sabemos donde saiu.

 

O homem lhes respondeu: É de espantar que não saibais donde ele é e que ele me tenha aberto os olhos. — Ora, sabemos que Deus não exalça os pecadores; mas, àquele que o honre e faça a sua vontade, a esse Deus exalça. — Desde que o mundo existe, jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. — Se esse homem não fosse um enviado de Deus, nada poderia fazer de tudo o que tem feito.

 

Disseram-lhe os fariseus: Tu és todo pecado, desde o ventre de tua mãe, e queres ensinar-nos a nós? E o expulsaram. (João, cap. IX, vv. 1 a 34.)

 

Ser expulso da sinagoga equivalia a ser posto fora da Igreja. Era uma espécie de excomunhão. Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo de acordo com o progresso das luzes atuais, já foram tratados como os judeus que reconheciam em Jesus o Messias. Ontem fomos excomungandos como fizeram os escribas e os fariseus com os seguidores do Cristo. Aquele homem foi expulso apenas porque não pode admitir seja um possesso do demônio aquele que o curara e porque rendia graças a Deus pela sua cura. Não é o que, ainda, fazem com os espíritas? Anteriormente já pregaram que os necessitados não deveriam aceitar o pão que os espíritas distribuíam, por ser do diabo esse pão.(3)

 

Fiquemos por aqui indicando a leitura dos pertinentes comentários de Kardec com relação à resposta oferecida, pelo Mestre, aos seus discípulos: "Não é por pecado dele, nem dos que o puseram no mundo; mas, para que nele se patenteiem as obras do poder de Deus". Há expiações dolorosas, mas também há provas escolhidas! Ver Agostinho. Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, ítem 19. O mal e o remédio(4).

 

Acreditamos que o estudante saiu satisfeito e eu nem lhe falei sobre a explicação dada por Kardec da utilização daquela espécie de recurso empregado como meio para a cura do cego. Resultados de experiências científicas atuais apontam na mesma direção.

 

Um outro aluno, extremamente crítico, noutra oportunidade questionou a apresentação que fora feita de determinado orador espírita dizendo: "Informar que o palestrante é professor e doutor não é ferir sua humildade e tentar passar verniz no seu ego?"

 

Respondi que não poderia falar por ele, mas acreditava que era uma boa oportunidade de, confirmando a veracidade das informações, passar por esta prova e oportunidade de, com seu testemunho, demonstrar que não há incompatibilidade entre a atividade científica e o sentimento de religiosidade (Ciência + Consciência). Neste momento, não pude deixar de lembrar o Doutor Crookes (1), que estudou os fenômenos espíritas, durante os anos de 1870-73 e publicou seus resultados pela primeira vez no Quartely Journal of Science, de janeiro de 1874.

 

A um dos representantes da Academia que duvidara da sua condição de Membro da Sociedade Real de Londres e dos resultados das suas pesquisas científicas sobre materialização de espíritos, William Crookes respondeu: “Não digo que isso seja possível; afirmo que isso é uma verdade”. Foi por isso que Victor Hugo afirmou que “evitar o fenômeno espírita, deixar de prestar-lhe a atenção a que ele tem direito, é faltar com o que se deve à verdade.”

 

Acredito que o jovem aluno tenha percebido que o verdadeiro espírita não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais. Usa, mas não abusa de seus títulos acadêmicos ou “dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões”(4). 

 

Referências Bibliográficas

1. Crookes, W. 1874. Fatos Espíritas. FEB. 5ª ed.

2. Kardec, A. 1861. O Livro dos Médiuns. FEB. 59ª ed.

3. Kardec, A. 1868. A Gênese. FEB. 27ª ed.

4. Kardec, A. 1866. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.108ª ed. Cap. V, ítem 19, pág. 11-113, segundo parágrafo. O mal e o remédio.

 

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado 

 

Este artigo pode ser encontrado, também, neste endereço eletrônico:

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* Núcleo Espírita Universitário

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Fonte: http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs3/AS_CI_BI_D_ESP_CEG_NAS_LCF.html