À mulher

Republicação (este texto foi publicado aqui, dia 5.3.2011)

Wilson Correia

“Não se pode escrever nada com indiferença” (Simone de Beauvoir).

Era 8 de março de 1857. Operárias de uma indústria de tecidos de Nova Iorque entraram em greve.

O que reivindicavam?

Diminuição da carga horária de trabalho, de 16 horas/dia para 10 horas/dia; isonomia salarial perante os homens, pois recebiam em torno de um terço daquilo que seus companheiros ganhavam para executarem as mesmas atividades produtivas; uma ética das relações interpessoais e profissionais baseada no respeito à dignidade humana no ambiente de trabalho.

Lutavam por essas melhorias nas condições de trabalho dentro da própria fábrica de tecidos. Mas essa greve foi brutal e violentamente contida. Trancadas dentro daquele prédio, tiveram a fábrica incendiada. Como não havia nenhuma linha de fuga, 130 delas morreram carbonizadas. As portadoras do dom da vida tiveram as suas próprias vidas ceifadas da maneira mais horrenda que era possível a seus algozes patrões.

Em 1910, houve uma conferência na Dinamarca, na qual se decidiu que, dali em diante, o 8 de março se tornaria “Dia Internacional da Mulher”. Era a homenagem possível àquelas 130 tecelãs reprimidas e queimadas em 1857.

No ano de 1975, a ONU reconheceu e oficializou, por meio de decreto, o 8 de março como o “Dia Internacional da Mulher”.

Lembrando a mulher que me deu a vida, a mulher a quem dei a vida, as mulheres com as quais compartilho a vida, quero entender que o resgate histórico do 8 de março é significativo: ele nos diz que a luta não se esgotou e será contínua.

Se, ontologicamente falando, mulher e homem se encontram naquilo que queremos sob o nome de “humanidade”, o respeito às nossas diferenças, em muitas circunstâncias, ainda parece um desafio.

Porém, não indiferente diante desse desafio, cumprimento todas as mulheres as quais, igual a mim, hoje lutam em prol do casamento entre justiça e liberdade.

E que esse casamento não tarde a nos oferecer o seu festim, no qual homens e mulheres poderemos comemorar, de fato, nossa real igualdade.