O que a mágoa acrescenta?

Caio considerava-se uma pessoa saudável, contudo, tinha constantes dores de cabeça por causa de pequenas picuinhas com colegas de trabalho. Freqüentemente se aborrecia com pessoas próximas e familiares, quando isso ocorria a sinusite tratava de lhe impor o castigo.

Não raro discutia com a mãe no horário do almoço, por isso era praxe estar com dores do estômago, fruto da alimentação atribulada que realizava. Sua pressão arterial andava alta, filha de preocupações não solucionadas e também de aborrecimentos alimentados ao longo dos anos. Caio era assim, se lhe fizessem algo, por menor que fosse, ele se lembrava daquilo com mágoa, por meses, anos a fio.

Certa vez, encontrou pessoa que considerava desafeto desde os tempos de criança, com mágoas relembrou daqueles episódios menos felizes que vivenciaram. Caio, pensamento perdido no passado, enceguecido pelo rancor, provocou o suposto desafeto. Discutiram, e ele, de tanta raiva, literalmente explodiu, sucumbindo ainda jovem, aos 33 anos, vitimado por derrame cerebral.

A história de Caio nos leva a refletir no que é de fato ser uma pessoa saudável.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), pessoa saudável é aquela que goza de bem estar físico, psíquico e social.

Por isso, faço a pergunta ao leitor: você sente mágoa? Costuma se irritar com facilidade com os outros? Perde largo tempo de sua vida remoendo o passado doloroso?

Se a resposta foi positiva, certamente você não está momentaneamente gozando de saúde, mesmo que ainda não esteja sentindo os reflexos físicos de suas emoções desencontradas, porque saúde não é ausência de doença, ou dores, mas sim o que lemos acima e repetimos agora: “ Saúde é gozar de bem estar físico, psíquico e social”.

Não adianta se irritar com coisas que nos fogem ao alcance. Por exemplo: um amigo marca um horário para nos encontrar, nós chegamos exatamente na hora aprazada, porém, o amigo por motivos que desconhecemos não comparece no horário. Têm pessoas que se desesperam, bufam, blasfemam, têm dores de cabeça de tanto nervoso que passam chegando mesmo a estragar o dia por causa do atraso do outro. Ora, o atraso foi dele e não nosso, portanto, se analisarmos bem a questão e agirmos com racionalidade, não iremos nos afligir com situações que nos fogem ao alcance.

Outro ponto importante é o sentimento que se nutre em relação às pessoas e situações que com elas partilhamos. Remoer o passado doloroso é procurar motivos para se aborrecer. Muitas pessoas fazem questão de relembrar supostas ofensas que lhe fizeram a meses, ou mesmo a anos, entram em sintonia com esses fatos que trouxeram marcas dolorosas, e revivem todas aquelas emoções desagradáveis.

E veja o caro leitor, reviver essas emoções traz novamente a sensação de desconforto que ela ocasionou, gerando mágoa que lentamente vai minando nossa resistência física e impondo dolorosas sanções a nós mesmos.

Muitos dos males físicos que sofremos hoje são filhos das situações que não logramos êxito em resolver.

Por isso, se libertar do passado doloroso, perdoando aqueles que julgamos que nos ofenderam, é atitude inteligente e de extrema importância para que gozemos de uma vida saudável em plenitude.

Em Irlanda, foi feitos uma pesquisa com 17 adultos que tiveram familiares vítimas da violência terrorista. Muitos sentiam tenebroso ódio dos autores dos crimes. Não conseguiam mais viver, consumindo-se em intensa mágoa. Após treinarem um período para “Perdoar os que lhe ofenderam”, tiveram um alívio mental de cerca de 40%, além de uma diminuição de 35% das dores de cabeça, nas costas e insônia que tinham, fruto do desencontro de suas emoções.

Temos ai a prova cabal de que perdoar, não se prendendo ao passado doloroso, é um bem que fazemos a nós mesmos.

Portanto, quando nos surgir pensamentos desagradáveis, que teimam em querer nos encarcerar nos porões da mágoa, lutemos por nos desvencilhar deles, treinando nossa casa mental para afugentar toda e qualquer lembrança que nos faça reviver momentos que não nos acrescentam nada.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 26/02/2007
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