DO TEMPO ESCOADO

Andréa, meu amor do coração! Já são passados 28 outonos sulinos namoradoiros: de parceria, amor, trabalho feito, morada construída. Desta forma vamos mantendo a vida com utilidade, amorosamente, tudo à virginal maneira, tratando de cuidar de nossos três filhos de quatro patinhas. O amar é a mais longa construção de uma vida neste plano. Cada dia o Absoluto nos põe à prova. Continuemos a jornada com os pés no chão. Como poeta eu até posso voejar, porque Poesia é fantasia, farsa, sonho, desejos de ser e estar. Não há maiores compromissos com a veracidade dos fatos, coisas, ações, tudo tem jeito graças ao condão da inventiva. Todavia, conviver é banhar-se na realidade. Um desafio para os tempos volúveis que vivemos diuturnamente neste séc. 21, em que uniões afetivas se esvaem, dissolvidas em fumaça densa, que atinge olhos, ouvidos, nervos, corações. Assim, na maciota, vamos nos reconstruindo a cada queda, a cada deslizar na lama nos charcos do convívio. Bem, a chave parece estar na vontade e fortaleza com que pedimos ao Absoluto e ele nos abençoa. Amada, eu te amo num trajeto que se assenta em 28 anos, pelo todo que és: a fatia de felicidade que alimenta e permite o renascer da Poesia em mim. Nossa aliança de noivado foi a poética, naquele sábado à tarde, decorrência do encantamento do baile de sexta, dia 05 de fevereiro de 1994, e continua sendo o nosso anel de compromisso. Amo-te mais agora, que o tempo me dá algumas certezas da escolha certa. Feliz de quem faz do tempo o seu travesseiro de pouca insônia. Ainda mais agora, nestes tempos de pandemia da Covid-19, em que a finitude nem mais bate à porta com algum recato.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2021.

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