Onde estão os seus olhos?! - At2
É magistral a maneira como Deus nos conduz gradativamente ao entendimento de qualquer doutrina bíblica. Textos com afirmações claras e abertas, outras nem tanto; parábolas, figuras e tipos como que indicando o caminho a seguir na interpretação; e às vezes algo tão sutil que somente anos de leitura e dedicação podem trazer seu sentido mais profundo à tona.
Quantas não são as peculiaridades da volta de Jesus?! – em glória ou discretamente, salvando Israel e a Igreja, julgando as nações e o mundo, assentado nos céus ou no trono em Jerusalém, distribuindo dons ou sentenças sobre justos e ímpios…
Mas é certo que as duas vertentes mais controversas no meio cristão a respeito de Sua vinda, tratam 1) do momento deste retorno e 2) da sua forma. Vamos ampliar nossa posição ao que já mencionamos anteriormente nesta multiforme linguagem divina…
A abertura do livro de Atos utiliza uma fórmula simples, condizente com a simplicidade relativamente usual da Escritura.
Alguns instantes antes de Jesus ser elevado aos céus (em um período intermediário entre o fim da Lei e o início da Graça), seus discípulos, ainda presos ao mundo judaico que estava prestes a ruir, insistem infantilmente na questão do reino judaico, mesmo diante de um batismo sem precedentes para a nova condição que vigoraria sob a era da Igreja:
“Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo [nova condição], não muito depois destes dias [após a ressurreição]. Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? [velha condição]” (1.5-6).
A resposta é direta, na tentativa de eliminar qualquer risco de má interpretação. Mas até hoje muitas dúvidas pairam pela falta do contexto maior da Escritura.
“Não vos [judeus que buscam o reinado restaurado de um Israel que não se arrependeu] pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder” (1.7).
Esta condenação é para todos em qualquer tempo? Não! Somente Israel perdeu o direito de distinguir os tempos estabelecidos pelo Pai, pois como profetizou Jesus a respeito de sua rebeldia e incredulidade – “Jerusalém, Jerusalém, 1) que matas os profetas, e 2) apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos... e 3) tu não quiseste! Eis que 4) a vossa casa vai ficar-vos deserta; porque eu vos digo que 5) desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor” (Mt 23.37-39).
Dado o xeque-mate aos representantes judaicos, Jesus retorna ao assunto principal relacionado à Sua ascensão, o batismo do Espírito, a pregação global e Seu retorno:
“Mas 1) recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e 2) ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e 3) até aos confins da terra” (1.8).
Somente a Igreja está agora em vista. Deus não tornará a tratar com Israel “até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11.25), findando assim seu testemunho. A nação rebelde está momentaneamente ‘congelada’ quanto à restauração plena de seu reino. E se o tempo de guerra que Israel agora vive com seus vizinhos revela seu castigo, também demonstra os cuidados de Deus para a manutenção de sua existência, mas sem a intenção imediata de restaurar a glória perdida de seu povo. Sua glória será retomada, sim! – mas somente após seu julgamento terreno e consequente nova dispersão.
E é aqui que retornamos aos 2 pontos controversos acima mencionados. O desfecho da era da Igreja é simultânea à volta silenciosa de Jesus, como o texto inspirado assopra:
"E ser-me-eis testemunhas... até aos confins da terra. E, quando dizia isto, vendo-o eles [as testemunhas deste período evangelístico da Igreja], foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos" (1.8-9).
Enquanto o Evangelho da graça em Jesus estiver em atuação no mundo – este mesmo Jesus permanecerá ocultado aos olhos judaicos, porém intercedendo sacerdotalmente por sua Igreja. E Ele voltará primeiro aos que testemunharam no mundo, como progride o texto!
“Estando a olhar atentamente para o céu, enquanto ele se ia, dois homens vestidos de branco [os mesmos dois que abriram seu sepulcro?!] encontraram-se junto deles e lhes disseram: Homens da Galileia, por que estais aí a olhar para o céu? Este Jesus, que foi arrebatado dentre vós para o céu, assim virá, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (1.10-11 BJ2) – outras versões dizem “do modo como”, “assim como”, “da mesma forma”, “da mesma maneira”, “na mesma maneira”, “do mesmo modo como” [compare em https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=44&chapter=1&verse=11].
E como foi esta partida?! – 1) Em glória excelsa? 2) Em poder estonteante? 3) Em abalo cósmico? 4) Visto aos olhos de toda a humanidade? 5) Com vistas ao juízo final? NÃO!
Então como foi?! – 1) O mesmo Jesus ressuscitado em corpo espiritual! 2) Sem poder visível! 3) Sem abalos da natureza! 4) Contemplado apenas pelos futuros membros da Igreja! 5) Não para julgar, mas para salvar seu corpo terreno que O aguarda dos céus!
Eis as grandes diferenças com a vinda gloriosa de Jesus (como em Mateus 24) ao final da tribulação de 7 anos sobre o mundo e Israel – 1) “quando o Filho do homem vier em sua glória”! 2) “com poder e grande glória”! 3) “as potências dos céus serão abaladas”, 4) “todas as tribos da terra verão o Filho do homem”! 5) “Virá o senhor daquele servo… e separa-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas… E todas as nações serão reunidas diante dele”!
Imensas discrepâncias, condições e objetivos, que resultam numa condição essencial – nenhum selo apocalíptico será aberto, enquanto Sua Igreja (composta por irmãos por quem morreu e selou com o Espírito da promessa) não estiver reunida e preservada nos céus!
Mas complementaremos o assunto mediante outra visão em que Jesus Se apresenta em pé no trono ao primeiro mártir da fé cristã! Tudo se encaixa perfeitamente, como deve ser!