Vó, saudades!
Mãe, saudades!
(maio / 2003)
 

Uma mulher que nos ensinava por provérbios e parábolas. De pouco saber livresco, possuía a sabedoria aprendida com as experiências da vida.

Olhar crítico, rosto sério, sensibilidade humana para distinguir o bem e o mal. Não era dada a sorrisos. Mas como sabia acolher! Ela tinha o coração e a alma nobres. E sempre nos dizia: "fazei o bem, não olheis a quem", numa atitude de verdadeiro amor ao próximo. 

Era o equilíbrio da família. Era de sim ou não. Talvez, quem sabe, meias palavras, não faziam parte de suas decisões.Não fazia jogo de cena para agradar quem quer que fosse.

Ajudava no sustento da casa, na educação dos filhos  e da sobrinha que criava com a sua profissão de costureira. Uma das melhores que Camaçari conheceu até hoje.

Não era dessa cidade. Veio do sertão baiano – Candeal, onde meu pai, de descendência italiana a fisgou. E se fez a miscigenação do branco e da negra, gerando filhos mestiços. Sete. Todos paridos em casa, anos após ano. Amamentou. Criou. Educou. Liberdade vigiada, controlada. Pois, “quem com porcos anda, farelos come". Por isso: "cada macaco no seu galho'.

Católica fervorosa, era da Legião de Maria uma de suas filhas mais devota. Saía em visitação aos mais necessitados, com as suas irmãs de irmandade. Era adepta incondicional do amor. Dizia-nos: "quem com ferro fere, com ferro será ferido". Por isso, nada de fazer aos outros aquilo que não queremos para nós mesmos. Sábia mulher! Tinha uma visão espetacular de mundo e de pessoas.

 Viu casar os sete filhos e nascer seus dezoito netos.Tornou-se, ao ser avó, mais flexível. Aos netos já permitia o que aos filhos não concedeu. Contudo, a dor de ter perdido meu pai, prematuramente, não lhe deu a chance de conhecer seu último neto e bisnetos.

Amou tanto esta terra, que voltou do leito do hospital para nela morrer, rodeada dos filhos, netos e a sobrinha que criou. Na casa onde cada tijolo foi colocado sob sua orientação, deu seu último suspiro.

 A casa de minha MÃE, mulher sertaneja, guerreira, valente até o fim. Não chorou para se despedir de nós. Eu a vi ofegante. Apenas chegou e nessa mesma noite nos disse adeus.

NÃO! Até mais, MAINHA. Porque: “O bom filho à casa torna”.
 
(Título e texto adaptados para declamação de David: Vó, saudades!)
   


(Republicação: T42743, de 24/03/2007)

Maria Luiza D Errico Nieto
Enviado por Maria Luiza D Errico Nieto em 30/04/2010
Reeditado em 15/08/2023
Código do texto: T2229333
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