O ÚLTIMO ABRAÇO QUE ME DÁS
Fragmentos da crônica de Antonio Lobo Antunes

“Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele.

Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me:

- Abrace-me porque é o último abraço que me dá

durante o abraço:

- Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento

e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito...”.



Para meu querido amigo, Mario Rodrigo, com quem fiz doze sessões de quimioterapia e que hoje se foi, sem que eu pudesse lhe dar o último abraço. Descanse da dor, do medo e da solidão, amigo.


Fragmentos da extraordinária crônica de autoria do escritor português Antonio Lobo Antunes. O texto integral poderá ser lido no endereço abaixo:

http://visao.sapo.pt/opiniao/opiniao_antonioloboantunes/o-ultimo-abraco-que-me-das=f761252