VOLTAR PARA CASA

Voltar para casa cura as dores do mundo. O Filho Pródigo, cansado das dores do mundo, encontra no regresso à casa paterna a cura para o seu cansaço, sua pobreza, sua desilusão com a vida longe do aconchego do lar.
Voltar para casa cura das dores da nossa humanidade. Refugiar-se na casa interior, na parte do divino em nosso existir, cura-nos do assombro da nossa humanidade, as nossos fraquezas, as nossas insatisfações, o nosso estado de permanente sentir o que nos falta. Jesus, com a morte física, liberta-se da sua humanidade e volta a ser pura essência, o ser divino.
Volta para casa nos cura do exílio. Quando viajamos, quando somos rejeitados em nossa própria Pátria, quando um acidente ou uma doença nos prende num leito de hospital da nossa cidade, ou no estrangeiro.
Voltar para casa nos cura quando sofremos a dor da perda. Quando perdemos um ente querido, um amor, um amigo, por morte ou por trauma, quando um grande prejuízo nos assola, ficamos sem chão, sem horizonte, sem esperança, saímos do nosso centro. Quando deixamos o sentimento de abandono, quando a ferida cicatriza, quando adquirimos de novo o prumo, com a sensação do amar-se e ser amado, independente do outro, de fora, quando percebemos de novo a vida como dádiva, luz, graça, estaremos curados e nos sentiremos confortáveis no nosso corpo, nossa mente, nossa alma, nosso espírito – nossa casa.
A volta para casa só não cura a saudade, no entanto, estarmos verdadeiramente em casa nos ensina a viver com a ausência, com as histórias vividas, o amor sentido sempre latente, a olhar para a frente e descortinar a esperança e o novo.
Há sentimentos que se alojam conosco na nossa casa e é preciso saber conviver com eles.
A saudade é um exemplo desses sentimentos.
Inspirado em Alan Ruschel, jogador sobrevivente da Chapecoense, que perguntou ao seu pai, ainda no leito de hospital da Colômbia:
- “Pai, quando eu voltarei para casa?”

14/12/2016