Escultura


Na pedra do desejo,
a inscrição do seu corpo
em curvas bem delineadas,
tocadas e retocadas em minhas mãos.
Eis o desejo na pedra feita.
Leve toque dado sem receitas
nas algemas da saudade,
na lembrança que fica
enquanto a vida segue
sem olhar para trás,
sem saber se algo ficou,
onde o erro pousou.
Eis a pedra que retira o passado,
o bem esculpido, talhado
pelo contorno, pousa dourado
no berço que vence o tempo,
enquanto vencido, choro na derrota,
sorrindo ao corpo de encontro.
As muralhas, fim dos inícios,
princípios de vida, são
nos albergues de corações caminhantes,
em corpos que farejam a noite,
em bocas repetidas,
no vazio dos abraços,
na pedra fria da lareira apagada.
Se faz o peito, frio e apagado,
desligado do tempo,
no talho esculpido,
dobrando o silêncio a que indefine,
o resto de saudade que cobre e pode resguardar
as marcas na pedra,
a fria ressurreição do tempo.