Inerente

Sabia que era amor, 
quando você se confundiu com o azul
das águas mansas, do céu calado.
Foi amor nas estrelas que brilharam,
na metade da lua que um dia nos dividiu.
Foi amor na garoa fria,
nas marcas dos nossos pés nas calçadas,
no ruído em compasso,
no compasso que não fechou a circunferência.
Foi amor nos versos lidos,
em sua imagem rebuscada em cada pauta.
Foi amor até na despedida.
A palavra rodou, foi esquecida.
O adeus não aflorou.
Apenas as mãos se tocaram,
os passos perderam o compasso.
A lua as vezes se faz em metade,
mas, ainda em cada verso, você passeia;
lidos ou não, circundam a poesia
todos os fenômenos deste amor,
que relacionam cada metade partida.
Um dia seremos nós.
Cada qual com sua história.
Em cada uma, a glória
das vitórias, reflexões
e quem sabe um gosto amargo.
Foi amor, mesmo quando dividido.
Reparto o que não é meu
com trombadas, tropeços,
quebrando a cabeça para o acerto.
Mas, sempre no desencontro
dou quase constantemente a face trocada;
só que a bofetada é a mesma.
Foi amor, talvez por orgulho eu negue
e não diga que é amor
vivo, constante em cada momento,
sem reconhecer a perda e a ausência.


Marcelo Haroldo