A NATUREZA DO MINISTÉRIO DE JESUS.

Jesus iniciou seu ministério referendando a sua humanidade. Seu primeiro ato mencionado no caminho da justiça, foi submeter-se ao batismo de João, que era o caminho do arrependimento. (Mateus 3: 13). Não tinha de que se arrepender, mas submeteu-se, para cumprir toda a justiça, porque estava ali, não como Deus, mas como homem.

Quando foi submerso, saiu logo da água, porque sendo a água um tipo de morte, sob hipótese alguma poderia detê-lo.(Mateus 3: 16). Esse fato é revelado na Bíblia Sagrada com apenas duas palavrinhas: “saiu logo”. Seguindo o princípio do “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, boa parte do ministério do Senhor Jesus precisa ser substantificado pelo espírito e percebido nas entrelinhas, para ser plenamente compreendido. Por isso necessitamos de revelação para compreender porque Jesus “saiu logo da água.” Não é lindo esse detalhe? Só o Espírito do Senhor pode nos fazer notar as minúcias e os detalhes de toda a riqueza dessa Vida.

A aprovação de sua humanidade perfeita não veio dos homens, mas do alto, sob a forma de pomba e sob o referendum de uma voz do céu que dizia: “Este é meu Filho amado em quem me comprazo.”( Mateus 3: 17). O deleite do Pai foi manifestado, não pela exposição da divindade, mas pelo exercício da plena humanidade, quando presenciou o Filho, como homem, saindo, obediente, da água. O ato de obediência, e submissão à justiça, alegraram o coração de Deus . Nesse fato está contida a natureza da missão de Jesus, que não veio para compor a imagem vitoriosa que a nação judaica idealizara, mas a necessidade de justiça do Pai, num mundo que sucumbira ao formato do sistema religioso vigente no meio do seu próprio povo.

Como homem, foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.(Mateus 4). As diversas correntes de pensamento, que exigiam um Messias libertador, não consideraram, sequer, a existência do diabo. A mente humana é orgulhosa demais para admitir que “o mundo jaz no maligno.” No entanto, Jesus não ignorou a presença do inimigo e sempre tratou a terra como um território ocupado por forças malignas e poderosas.

Foi tentado em três áreas, nas quais os homens sempre falham, desde Adão: necessidade de pão, segurança e sucesso. Passou fome, para decretar que nem só de pão viverá o homem, e que as necessidades físicas devem ser preteridas, em favor do espírito. Preferiu zelar pela própria integridade física a tentar o Senhor, fabricando um milagre sob encomenda. Recusou os reinos do mundo e a glória deles porque, tê-los a seus pés, envolveria adorar o diabo, que é o dono dos reinos do mundo. Optou por seguir o curso normal da humanidade, (sem o pecado,) guardando-se do sobrenatural, que na maior parte das vezes, é fabricado, sob medida, para promover a glória do homem.

Ao iniciar seu ministério, não buscou seguidores, na escola do judaísmo. Não chamou sacerdotes, levitas ou descendentes das tribos que foram separadas para o serviço do templo. Escolheu pescadores porque viu o mundo como o mar, e os homens à deriva, no oceano, como peixes. Seus primeiros discípulos foram duas duplas, formadas por dois irmãos: André e Pedro; Tiago e João. André e Pedro estavam pescando no Mar da Galiléia, mas Jesus os viu pescando homens além do mar, na etapa final da vida. Não por acaso, Tiago e João estavam remendando redes no barco de seu pai Zebedeu. O que significaria na linguagem espiritual o fato de João ser encontrado pelo Senhor no momento em que remendava as redes no barco de Zebedeu? A resposta está no caráter do ministério de João que se tornou o “costurador” oficial das redes do cristianismo. Todos os “furos” da rede do Cristianismo foram remendados por João, em seus escritos. Se não tivéssemos João com seu ministério teríamos um cristianismo muito próximo do judaísmo. Tiago foi chamado para morrer; e para morrer, morreu. Esses foram os homens escolhidos pelo Senhor para compor o quadro inicial de discípulos: pescadores e pecadores, remendadores dos desvios causados por homens comuns, sem nenhum histórico religioso ou sacerdotal. Todos profundamente vocacionados para servi-lo.

Cedo deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, chamada a Galiléia das nações, no meio do povo gentio. Quatro ações nortearam a sua atuação: percorrer, ensinar, pregar e curar. (Mateus 4:12-25). Jesus não escolheu ficar em Jerusalém, assentado na cadeira dos escribas e mestres da Lei. Ele percorreu todo o território de Israel, onde as pessoas “estavam assentadas na região e sombra da morte” ( Mateus 4:16); nesse percurso, ensinava, pregava e curava.

Ao ensinar, Jesus cumpriu a Lei e, ao pregar, anunciou o aperfeiçoamento da Lei. A lei cobria apenas os atos dos homens, mas o aperfeiçoamento da lei julga palavras, intenções e pensamentos dos homens. Para entregar o Sermão da Montanha, com as suas bem-aventuranças, Jesus simbolicamente subiu a um monte. (Mateus 5). Os conceitos humanos precisavam ser deixados para trás e ao subir o monte Jesus fez um convite para que as multidões elevassem os pensamentos, à proporção em que ganhavam uma visão menos restrita sobre as realidades espirituais. Esse convite para contemplar o infinito se fez necessário porque o seu discurso seguiria um padrão de pensamento muitíssimo elevado, desprezando o imediatismo do presente século, e concentrando todas as esperanças no futuro. Se os homens contemplam a terra, é-lhes impossível assimilar o sentimento de renúncia que se segue ao Sermão do Monte. Afinal, as bem-aventuranças vieram sepultar para sempre os sonhos ufanistas de glórias terrenas.

Seu ministério nunca dependeu da aquiescência mental, dos métodos humanos de encorajamento ou simpatia. Seu discurso era anti todos os recursos humanistas que usam a alma como ferramenta de trabalho. Sua Palavra não era mentalizada, era revelada, portanto, não dependia da mente mas do Espírito para ser examinada, pesada e quantificada. Segundo o que o Pai lhe mandava dizer, dizia. Quando Nicodemos o procurou para entender como funcionavam os seus poderes e qual a base da doutrina que manifestava, declarou que para um homem compreender quem era o Filho do Homem precisava antes nascer de novo, isto é, existir com outra natureza que lhe permitisse substantificar a realidade das coisas espirituais, mesmo vivendo na esfera física. Resumiu em sua breve existência três aspectos fundamentais do poder de Deus: justiça, santificação e redenção. Nenhum desses aspectos foi experimentado por homens que não nascessem de novo, fossem eles religiosos, amáveis, prosélitos ou bondosos. O ponto que Jesus tocou era nevrálgico e tinha profundidade certeira para provocar em Nicodemos, e em todos os homens moralmente corretos, total desencanto pelas demandas religiosas, sociais e éticas, de todas as épocas. Todos os Nicodemo’s devem ser capazes de perceber que os atributos de uma boa alma são verdadeiros usurpadores do lugar do Senhor porque ocupam seus pensamentos, roubam sua energia e abstraem a centralidade da cruz em suas vidas.

Desde o princípio de seu ministério Jesus percebeu que o grande inimigo de sua obra era a religiosidade estéril. E por religiosidade estéril não se entenda tão somente o judaísmo de ontem mas também o cristianismo decaído de hoje que direciona a capacidade mental dos cristãos para obras socialmente aceitáveis, para cerimônias rituais, para argumentações doutrinárias, para mobilizações inúteis, para a prática indiscriminada de dons e talentos que expõem mais o vaso do que o Espírito de Deus. O tempo do Senhor na terra foi breve mas seu propósito foi cumprido trazendo a toda criatura a possibilidade de obter a sua justiça, a sua santificação e a sua (nossa) redenção. Tudo o que competia ao Senhor fazer pelo homem já foi feito. Ninguém pode alegar ignorância quanto à eficácia de sua missão desde que queira conhecer as coisas profundas de Deus e tenha seriedade no trato com a sua Pessoa, vida e obra. O ministério do Senhor é tão enérgico que nos emancipou das ilusões de um cristianismo manufaturado que quer fazer pelos cristãos mais do que o Senhor já fez. A natureza do ministério do Senhor é tão cristalina que continua nos livrando da incompetência de mentes que não conseguem a revelação da Palavra de Deus e ministram apenas as palavras da Bíblia. O caráter do ministério do Senhor é tão diligente que nos libertou de pensamentos pobres, pequenos e mesquinhos, de líderes que vêem no ministério da Palavra a oportunidade de falar aos homens mesmo que Deus não fale. A proteção do Espírito do Senhor é tão suficiente que sempre nos faz discernir os púlpitos de purpurina aonde brilha mais a inteligência do pregador do que o próprio Senhor. Confrontar, comparar, conferir, analisar é a palavra chave. Não somente com a letra da Bíblia mas com a sabedoria que o Espírito disponibilizou em nosso coração e que nos ensina todas as coisas. Sempre que o nosso coração rejeitar os métodos e princípios empregados para o ministério da Palavra façamos o teste da veracidade comparando, confrontando, conferindo, analisando com o exemplo que o Senhor Jesus nos deixou. Com tantos ventos de doutrina soprando, é a única forma de escaparmos dos vendavais.

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