COMPARTILHANDO CRISTO.
ANA MARIA RIBAS. 


UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA COM A IGREJA

Como faço toda quarta feira à noite,  fui  preparada para liberar uma mensagem bíblica, em um local de reuniões, aberto para pessoas de todos os credos.  Somos um grupo de irmãos que nos reunimos uma vez por semana, com o objetivo de acolher a todos,  sem distinção denominacional. Por causa dessa abertura e porque o local é fora de um templo,  muita gente tem liberdade para  chegar ali.

 Gosto de escrever e Deus tem-me dado o dom de ensinar. Falar ao microfone para uma platéia atenta é algo relativamente antigo em minha vida, mas que agora ressurge de maneira nova, sem vínculo denominacional.  Porque voltei, depois de 7 anos na caverna,  é outra história que, qualquer dia vou liberar. Mas por enquanto, não.

O que quero compartilhar diz respeito a hoje. Quando cheguei ao local, uma vez mais incomodou-me a muda ordem silenciosa. Todas as pessoas sentadas, quietas, caladas, como se tivessem embarcado num trem, apenas esperando a partida.  E a maquinista era eu. Piui, fom,fom,fom, fom.... Sempre que chego sinto o esforço que deve sentir a chefe de uma torcida organizada. 

Meu Deus, entre nós não deveria ser assim. Entre nós deveria haver muito mais do que um elaborado silêncio de respeitosa reverência. Afinal, estamos reunidos em nome de um Deus vivo e a palavra dele diz que  "aonde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles." Estaria Jesus em nosso meio apenas calado, apenas esperando que eu ou outro  abríssemos a nossa boca para que Ele pudesse, enfim, falar? 

Deus, pensei - há quanto tempo isso me incomoda profundamente e  não faço nada, esperando que outros façam? Há quanto tempo venho apenas  liberando mensagens contra essa maneira muda de celebrar a Deus, contra essa maneira de contar apenas com as palavras dos outros, com o entusiasmo dos outros, com a fé dos outros e nada muda? Há quantos séculos  a assembléia morre de olhos abertos e boca fechada,  sem a possibilidade  de expressar o Senhor? Há quanto tempo vejo  todos olhando para baixo e para o lado,  vagamente enviesados, ligeiramente assustados, como se expressar a Cristo diante dos irmãos, fosse tão perigoso quanto comparecer em um tribunal? 

 Mas se para isso fomos chamados, para testemunhas de Jesus Cristo. Então, por que? Por que não se ensina o povo a sair do entorno do tanque de Betesda e a caminhar com suas próprias pernas em direção a Jerusalém? Porque há tantos mudos e paralíticos esperando o mover de águas que nunca se movem, enquanto apenas um ou outro privilegiado, consegue o milagre de poder enfim anunciar as grandezas do Senhor?

Resolvi parar de perguntar e começar a responder. Se alguém tinha que começar, que começasse por mim. Tomei a firme decisão de me lançar nesse novo  tão antigo, que remonta aos tempos dos primeiros apóstolos.
 
O que fiz foi muito simples, mas foi dirigido pelo Senhor. Sem Ele nada, com Ele tudo.  Coloquei o povo primeiramente em pé, e depois marchando como Josué, em volta do muro de Jericó. Apenas marchando e louvando.  Uma longa fila  formou-se atrás de mim  e cada pessoa que chegava, tratava logo de assegurar a sua vaga no trem da bênção e levantar a voz a Deus em oração. Foi glorioso. Os mudos falaram e não somente falaram, como também expressaram-se. Arte cênica e poder de Deus: uma bela parceria!

 Em seguida, abri oportunidades para os testemunhos livres. Como livre deveria ser tudo na igreja do Senhor, pois para a liberdade Cristo nos conquistou. Vários testemunhos aconteceram, testemunhos de irmãos cuja voz eu nunca ouvira: eles falam! 

Depois, escolhi um texto bíblico, o Salmo 19. O Salmo 19 tem palavra para os ímpios, para os judeus e para a igreja. Disponibilizei para que, cada um daqueles que quisessem participar, lessem e compartilhassem o versículo que lessem. Grande parte da igreja leu e compartilhou. Aqueles que tinham dificuldade para expor o versículo, eu socorria. Mas o Espírito de Deus dirigia. Encerramos orando uns pelos outros e de mãos dadas cantamos um hino. Foi como no princípio.

Essa é a igreja de Atos dos Apóstolos. Se as hierarquias religiosamente constituidas não atrapalhassem, teríamos em todo o tempo a igreja do Senhor: Cada qual trazendo o seu Cristo à mesa do banquete para ser compartilhado entre cada um. E tudo tão espontaneamente rico.  Cada pessoa, crente ou não, enfim liberta da maldição do Salmo 115: "Os ídolos deles são prata e ouro, obras das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam, têm olhos mas não vêm, têm ouvidos mas não ouvem,  têm nariz mas não cheiram, têm mãos mas não apalpam, têm pés mas não andam. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e os que neles confiam." Salmos 115: 4-8.

Será por isso que há no Brasil tão alto índice de acidentes vasculares cerebrais? Mas isso já é elucubração de uma mente fértil. Até aqui Deus veio comigo, daqui pra frente, tudo quanto eu falar será mera especulação mental.