O Despertar de Um Espírito

O Despertar de um Espírito (Revista espírita, Dezembro de 1858)

Versos escritos por meio de uma cesta sustentada por uma jovem senhora e uma criança.

Quanto a Natureza é bela e quanto o ar é ameno!

Senhor! Rendo graças e te admiro, de joelhos.

Possa o hino de alegria de meu reconhecimento

Subir, como o incenso, até a tua onipotência.

Assim, diante dos olhos de suas duas irmãs em luto,

Fizeste sair outrora Lázaro de seu sepulcro;

De Jairo desvairado, a filha bem-amada

Foi em seu leito de morte por tua voz reanimada.

Do mesmo modo, Deus poderoso! Me estendeste a mão;

Levanta-te! Tu me disseste: não o disseste em vão.

Por que não sou, ai, senão um vil montão de lama?

Gostaria de te louvar com a voz de um anjo;

Tua obra jamais me pareceu tão bela!

É àquele que sai da noite do túmulo

Que o dia parece puro, a luz brilhante,

O sol radioso e a vida embriagadora.

Então o ar é mais doce que o leite e o mel;

Cada som parece uma palavra nos concertos do céu.

A voz surda dos ventos exala uma harmonia

Que aumenta no vago e se torna infinita.

O que o Espírito concebe, o que fere os olhos,

É que se pode adivinhar no livro dos céus,

No espaço dos mares, sob as vagas profundas,

Em todos os oceanos, os abismos, os mundos,

Tudo se arredonda em esfera, e sente-se que no meio

Esses raios convergentes conduzem a Deus.

E tu, cujo olhar plana sobre as estrelas,

Que te ocultas no céu como um rei sob seus véus,

Qual é, pois, tua grandeza, se esse vasto universo

Não é senão um ponto aos seus olhos, e o espaço dos mares

Não é mesmo um espelho para teu esplendor imenso?

Qual é, pois, tua grandeza, qual é, pois, tua essência?

Que palácio tão vasto construíste, ó Rei!

Os astros não saberiam nos separar de ti.

O sol a teus pés, poder sem medida,

Parece o ônix que um príncipe amarra ao seu sapato.

O que admiro em ti, sobretudo, Ó majestade!

É bem menos tua grandeza que a imensa bondade

Que se revela em tudo, assim como a luz,

E de um ser impotente atende a prece.