Qual a verdadeira religião?

Estou lendo o livro “Ghandi”, escrito por Louis Fischel e editado pelo Círculo das Letras, livro este que retrata a vida de Mahatma Ghandi, o notável líder indiano.

Fischel prende a atenção do leitor com uma narrativa empolgante, o que torna o livro fascinante e motivador.

Fascinante porque nos faz conhecer a vida, cultura, costumes, religião e habilidades de um povo sofrido, e ao mesmo tempo rico como o indiano, nos mostrando um universo diferente do que vemos aqui no ocidente.

E motivador porque nos mostra a vida da grande figura humana que foi Mahatma Ghandi, um homem pequeno que se fez grande principalmente quando tomava decisões equivocadas. Sim, Ghandi também se equivocou algumas vezes, todavia, foram nos equívocos que ele demonstrou a força que lhe caracterizou a existência. Humilde, tratava logo de perceber e admitir onde e como havia falhado, para então retificar e tomar novos rumos.

Algumas pessoas vestem o manto da infalibilidade querendo demonstrar uma evolução moral, intelectual e espiritual ainda inexistente; com isso sofrem muito porque não enxergam, e conseqüentemente não admitem seus equívocos, além de se cobrarem em demasia para que tenham uma resposta pronta para todas as situações. Dificilmente essas pessoas falam Não Sei, porquanto se vêem na obrigação de responder a um questionamento, mesmo que a resposta esteja errada, falta-lhes a humildade para saber que são alunas da vida, e portanto falíveis.

Ghandi conseguiu o respeito e consideração até de seus mais árduos adversários. É que ele fugia do convencional; o comum em situações de turbulência era ser violento, Ghandi era pacífico. Se o comum era ceder as paixões de todos os matizes, Ghandi lutava para vencê-las, por isso todos aqueles que estavam ou não de seu lado nutriam afeição, carinho por aquela figura que conseguia reunir duas virtudes raras em uma mesma pessoa: doçura e firmeza. Sim, o Mahatma sabia ser doce e ao mesmo tempo firme, mostrando naquela época muitas das lições que hoje vemos necessárias no líder do século XXI.

E quem se aprofundar na vida do Mahatma verá que ele travou ferozes lutas íntimas, empreendendo um processo constante de auto educação. Por isso digo que o livro é altamente motivador, porque nos mostra que mesmo criaturas da envergadura de Ghandi não vieram prontas, esculpidas por Deus, são elas fruto de um intenso labor que fizeram para vencer suas más inclinações e conquistar virtudes. O que prova que todos nós, guardando as devidas proporções obviamente, podemos fazer despertar um Mahatma adormecido a partir de nossas próprias iniciativas por reformular nossa forma de ver a vida, as pessoas e o mundo; basta que para isso estejamos prontos a desenvolver outra virtude que nos dará todas as condições para essa reformulação: a Disciplina.

A propósito, por falar em disciplina e auto educação, lembro-me que o célebre pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, tinha a seguinte idéia: “Cidadão consciente é aquele que procura coibir suas más inclinações”. Fantástico! Não é mesmo, caro leitor? Bem coerente com a mensagem que por décadas semeou Mahatma Ghandi. O leitor mais atento perceberá que o célebre francês que citamos acima é Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, e poderá redargüir:

-Ora, nem espírita eu sou, por que tenho de continuar a ler este texto?

Obviamente que a opção entre continuar lendo ou não é sua, caro leitor, porém, se optar por dar seqüência à leitura, perceberá que: a idéia do professor Rivail não é somente para espíritas, mas sim a toda à humanidade. Assim como o Mahatma não falava somente aos indianos, e também o pastor evangélico Martin Luther King não falava somente aos negros ou aos evangélicos. Essas mensagens trazidas por esses missionários têm o cunho da universalidade, servindo para acelerar o progresso de todo o planeta.

Afinal, estar espírita, católico, evangélico, budista, maometano, ou qualquer outra religião, é secundário, o importante é estarmos lutando para afastar de nossa vida os fantasmas interiores que nos impedem de viver em plenitude.

Em planetas mais desenvolvidos a religião para rotular alguém disso ou daquilo inexiste, porquanto prevalece apenas uma religião: o Amor, esta sim a verdadeira religião, capaz de quebrar as amarras do egoísmo, modificar comportamentos desregrados, unir criaturas. Foi a religião do Amor e da auto educação que pregaram Kardec, Luther King e Mahatma Ghandi por toda a proveitosa existência que tiveram em nosso planeta. Falaram de amor e por amor a uma causa!

Portanto, vale a pena refletir nas lições de vida que nos legaram esses missionários, e começarmos a partir de então exercitar a disciplina, perseverança e sobretudo o amor, para que alcancemos de fato a felicidade, construída no santuário da consciência tranqüila, livre de condicionamentos que nos afastam de mensagens edificantes e de pessoas de outras religiões que poderiam nos enriquecer a existência.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 03/03/2007
Código do texto: T399566