Vigília

É preciso procurar a margem, afastar-se das caudalosas, salobras e roncadoras águas do rio “intolerância”.

A impaciência se generalizou e o número de adeptos não para de crescer.

Acusadores espreitam sedentos por falhas e equívocos alheios.

A compaixão para com as faltas do próximo ganhou nome diferente, chamam-na nesses tempos de “idiotia”.

O elogio que refresca a alma e fomenta atos e pensamentos nobres só é mencionado quando o feito possui dimensões estratosféricas, os pequeninos e não menos valiosos acertos passam despercebidos.

Há uma invisível, densa e daninha membrana energética envolvendo as massas.

A invigilância mental enfraqueceu o sistema imunológico das pessoas e permitiu que os germes do medo, da desconfiança, da irritabilidade e da reatividade os infectassem.

A “razão”, seguindo o exemplo de Caim, tenta a todo mento silenciar sua adorável irmã “emoção”.

A ira e o irrefreável impulso do revide deixaram de ser coadjuvantes, passaram a protagonizar os atos da vida.

Os verdugos se proliferaram, encontram-se escondidos, no íntimo dos pseudos mansos, daqueles que possuem rostos sorridentes e comportamento admirável.

Essa correnteza extremamente forte e incalculávelmente maléfica, está arrastando a humanidade para um fosso escuro e lodoso.

É preciso se afastar desse vórtice aniquilador, que como buraco negro, suga tudo ao seu redor.

É imperioso que se combata o desânimo, que se adoce o coração, que se peneire os pensamentos, que se eduque o verbo e que se adube a fé para que essa força nociva enfraqueça.

Entretanto, apesar de todos esses fatos desagradáveis, é importante salientar que esse exército tenebroso não passa de um pequenino pelotão se o confrontarmos com os batalhões do bem que a todo momento atuam ao nosso redor.

Ocorre que grande parte de nós ainda tem o equivocado hábito de evidenciar o ruim, de coloca-lo no pódium, de pô-lo numa vitrine.

Mais do que atentar para as inúmeras ações positivas que ocorrem constantemente ao nosso redor, é preciso treinar as vistas e as emoções para que possamos sentir integral e verdadeiramente esses luminosos e enriquecedores feitos e assim destaca-los com o ímpeto e a alegria que merecem.