O pranto de Sofia

"Nunca devemos envergonharmo-nos das nossas lágrimas" (Charles Dickens)

"Se choras porque perdeste o sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas" (Rabindranath Tagore)

Nos textos gnósticos do Cristianismo primitivo, antes do Concílio de Nicéia, existiam muitas variantes filosóficas sobre a origem do universo, a helenística, o platonismo, o gnosticismo, o cristianismo esotérico, o cristianismo mistico e o cristianismo ortodoxo.

Eu gostaria de trazer aqui a origem do universo pela perspectiva do pessimismo cosmológico, a origem do mundo pelo cristianismo gnóstico talvez você já tenha lido essa história ou ouvido.

Nos textos de Nag Hammadi (evangelhos apócrifos). A origem do mundo acaba acontecendo quando encontramos Sofia, no panteão de um Deus desconhecido que vamos chamar de "Agnostos Theos", esse Deus não se permite se revelar a ninguém, é um Deus silencioso, ninguém nunca o viu, nem o sentiu, nem nunca o encontraram amassando uvas no lagar no vinhedo de Barolo... nada disso... esse Deus permanece em segredo.

Sofia concentrando o aspecto feminino dos deuses, curiosa e investigativa como apenas uma mulher com tetracromatia consegue ser, queria encontrar esse Deus silencioso a todo o custo, Sofia então cria uma crise no Pleroma, cria uma devastação no olimpo dos gnósticos, ela se desespera, invadida pela aflição, apreensão, envolta pela aversão de sua tentativa de chegar a Agnostos Theos, dessa angustia nasce dela um filho, o então deus Demiurgo.

Demiurgo nasce com sede de poder, é um deus cego, obtuso, estúpido, cheio de orgulho e vaidade, Demiurgo então para mostrar seu poder ele cria o nosso mundo para ser seu brinquedo de torturas.

Demiurgo cria a humanidade para se divertir, para torturar, ele cria o mundo para ver os homens se matando, se prostituindo, se vendendo, se humilhando, guerreando entre si e fazendo crianças passarem fome, Demiurgo cria o homem para brigarem por religião e politica, cria o homem para matar seu semelhante por cor ou opção sexual ou por tráfico de entorpecentes psicotrópicos... Demiurgo se diverte com o nosso sofrimento e nossa auto destruição. Demiurgo fez o homem para ser sua marionete, seu joguete, sem misericórdia, Demiurgo criou o homem e a Naegleria Fowleri para comer seu cérebro e ele ri disso.

Sofia ao ver o monstro deus que nasceu de sua angustia, Sofia ao ver a dor, o sofrimento das pessoas, ela chora. Sofia pranteia e derrama lágrimas sobre o mundo, essas lágrimas nem ela sabe, mas são da matéria do Deus desconhecido, as lágrimas dela caem sobre os homens e neles nasce a centelha da compaixão, a centelha da caridade, a centelha do amor, o DNA da misericórdia, a estrutura genética nossa criada por Demiurgo foi feita para a destruição e dor, mas há uma centelha do bem derramada no interior dos homens...

Mesmo que o ser humano tenha sido criado por um deus orgulhoso, vaidoso, cruel e omisso, há uma centelha de luz em cada um de nós que mais cedo ou mais tarde virá à tona.

* Gostaria de deixar aqui a minha homenagem ao grande ator suíço Bruno Ganz que faleceu hoje... um imenso talento, conhecido por interpretar personagens como Hitler em "A Queda! As ultimas horas de Hitler" e Verge em "A Casa que Jack Construiu". Bruno Ganz um gigantesco simbolo da arte em língua alemã, ruhe in frieden.

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 16/02/2019
Reeditado em 16/02/2019
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