Dia 142 – Marcos 14 – 16. A ceia; A nova aliança; O galo; O homem nu, Eu sou, Mirra; Solidão; Testemunha.

18 de Maio de 2019

Encerramos hoje o Evangelho de Marcos, temos assim percorrido metade dos evangelhos, mais ainda possuímos comentários que precisam ser feitos; ainda assim, julgo estar longe de esgotar o assunto e tenho a ciência de ter deixado para trás muitas passagens dignas de nota.

Jesus então, ao participar da ceia da páscoa deixa-nos uma ordenança que gostaríamos de comentar agora. Vemos aqui Jesus tomando o pão e dizendo ser o seu corpo e tomando o cálice e dizendo ser o seu sangue, o sangue da nova aliança (Mc 14.22-24); quais significados tinham essas coisas?

Comer o pão significa comer o corpo do Cristo, significa mastigá-lo; em Isaías lemos que “ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades” (Is 53.9). Quando comemos o pão, nos tornamos participantes da morte dele; foi por nós que ele morreu, nós somos o motivo de seu sofrimento.

O vinho representa o sangue da nova aliança; a antiga aliança (O velho testamento) também fora selado com sangue (Ex 24.6-8), dessa mesma forma, a nova aliança (O novo testamento) também é selado com sangue.

Vivemos portanto em um novo pacto com Deus, o antigo já não vigora mais, ele foi cancelado (Hb 7.18-19), dessa forma, o cristão não vive segundo a lei do antigo testamento, antes vivemos pela nova aliança. Se hoje não matamos, não roubamos, não adulteramos, não é em cumprimento aos dez mandamentos, mas sim em cumprimento ao “amarás a teu próximo como a ti mesmo”, dito por Jesus.

Ha um fato curioso em Marcos 14.30, Jesus diz a Pedro que este o trairá antes que o galo cante, muitos ao lerem essa passagem imaginam que Jesus fale aqui de um galo de verdade, mas é possível que Jesus falasse de outro tipo de galo.

A palavra “galo” tinha mais de um significado naquela época, além do animal, galo era como os romanos chamavam o toque da corneta para os comandos militares. Pedro, quando trai Jesus, está no pático da casa do Sumo sacerdote; é possível que essa “galo” seja na verdade o toque de corneta para a troca da guarda.

Existem algumas passagens que, às vezes, passam desapercebidas por nossas leituras, umas delas é a do “Homem nu de Marcos” (Mc 14.51-52). Duas perguntas se fazem sobre esse texto, quem seria esse jovem e porque ele estava seguindo Jesus nu?

Há várias especulações, mas, penso eu que a mais plausível seja a que diz que esse jovem era o próprio Marcos.

Alguns estudiosos acreditam que a ultima ceia fora feita na casa de Marcos, partindo dessa ideia traremos a explicação. Após a ceia, Jesus sai com os discípulos para o monte das oliveiras; Judas que o havia de trair, havia se retirando antes do final da ceia e por isso não sabia dessa ida, é provável então que ele tenha conduzido os soldados para a casa de Marcos, mas, vendo que Jesus não estava lá, pode ter deduzido que ele estava no monte que costumava ir (ou pode ter se informado com alguém da casa).

Marcos então, que já devia estar dormindo (pelado), corre apressado para tentar avisar Jesus, a pressa é tanta (pois o perigo é eminente) que apenas se enrola com um lençol; talvez o próprio Marcos tenha atendido os soldados assim.

Por isso vemos que os soldados tentam o prender, pois o reconheceram e sabiam que objetivava livrar Jesus. Somente o evangelho de Marcos narra esse fato, talvez porque o fato de ter fugido nu o tenha impactado.

Mais uma vez nos posicionamos contra a ideia de que Jesus nunca afirmou publicamente ser o Cristo; diante do Sumo sacerdote e inquerido se era o não o Cristo, Jesus é categórico ao afirma εγω ειμι – Egô Eimi, Eu sou (Mc 14.61-62).

Vemos também um pequeno detalhe, mas que Marcos fez questão de anotar, ofereceram a Jesus um pouco de vinho com mirra (Mc 15.23); Essa mistura objetivava aliviar os sofrimentos, o vinho com o seu álcool e a mirra com suas propriedades medicinais. Talvez o que mais nos chame atenção seja a mirra; o presente que Jesus recebe em seu nascimento reaparece em sua morte. Jesus no entanto não bebe a mistura.

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” é uma das poucas frases ditas por Jesus na cruz, mas por que ele sentia isso? Por que o pai lhe abandonara? (Mc 15.34). Jesus era santo, teve uma vida perfeita e nunca pecou; a comunhão que ele tinha com o Pai era algo nunca visto (talvez apenas por Adão, antes da queda); mas ali, na cruz, todos os pecados da humanidade estavam sobre ele (Is 53.12), embora Jesus nunca tenha pecado, por nós ele se fez pecado (2Co 5.10); Jesus tornou-se maldito em nosso lugar (Gl 3.13).

Por esse motivo, naquele momento na cruz, o Pai se afastou dele, Jesus estava ali cheio dos pecados da humanidade, de forma que não podeira haver comunhão dele com o Pai (Is 59.2). Na cruz, Jesus sofreu sozinho, ninguém o estava amparando. Penso que talvez esse tenha sido o maior dos seus sofrimentos.

Ao ressuscitar, a primeira pessoa para quem Jesus aparece é Maria Madalena (Mc 16.9). Ha que diga que a ressurreição nunca ocorreu, que tudo fora invenção dos discípulos; aqui temos então que fazer uma pergunta lógica, porque toda mentira tem o objetivo de fazer com que creiam nela. A pergunta é simples, já que os discípulos inventaram essa história, porque a testemunha número um da ressurreição era uma mulher?

Em uma sociedade em que a mulher não tinha vez, em que seu testemunho não era considerado, qual o porquê de a usar como testemunha? Não seria melhor Jesus ter aparecido primeiro aos seu “grande” apóstolos? Mas não, o texto de Marcos segue o caminho contrário, e ainda afirma por duas vezes que eles não acreditavam na ressurreição (Mc 16.11;13). Quem criaria uma história de fé onde seu personagem é incrédulo e assustado?

Adriel M
Enviado por Adriel M em 18/05/2019
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