“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.  Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis.” [II Pe 3: 9-14]

 

Poucos são os que estão sempre conscientes de que sendo parte do povo de Deus, que se encontram permanentemente em uma caminhada rumo à Canaã celestial enquanto neste mundo, e isto desde o princípio da criação.

Muitas batalhas devem ser empreendidas contra os poderes das trevas, como ilustrado nas campanhas que Josué teve que realizar em seus dias para ocupar a terra de Canaã, e mais do que isso, preservando-se em um viver santo e piedoso, conforme convém àqueles que pertencem a Cristo.

 

Assim, a soma de tudo o que o Senhor Jesus Cristo espera de nós neste mundo pode ser reduzido a estas duas coisas:

1ª. Que devemos viver santamente para Ele;

2ª. Que devemos sofrer pacientemente por Ele.

Ele é glorificado por nós, somente nessas duas coisas. Ele espera que vivamos santamente em todos os tempos e em todas as coisas; o sofrimento é esperado de nós em ocasiões particulares, quando somos chamados por Ele.

Onde essas duas coisas estão, onde essa receita da glória é paga e devolvida, Ele não se arrepende de Sua compra, nem o preço inestimável que pagou por nós.

Na verdade, Ele diz:

"Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança." [Sl 16: 6]

Estas são as palavras de Cristo concernente à igreja, que é a "porção de Sua herança.".

 

O Senhor Jesus Cristo, vindo ao mundo como mediador entre Deus e o homem, trabalhou e realizou uma obra poderosa entre nós; e o que Ele fez pode ser referido a três partes principais:

1ª. A vida que Ele levou;

2ª. A doutrina que Ele ensinou; e,

3ª. A morte que Ele sofreu.

 

Em relação a tudo isso, sempre houve uma grande oposição no mundo, e isto ainda continua - por parte do mundo, é administrado sob uma dupla aparência, porque alguns caluniaram abertamente Sua vida como profana, Sua doutrina como tola, e Sua morte como justamente merecida.

Esse era o sentimento do mundo pagão e da igreja apóstata judaica antiga, como é o sentimento de muitos hoje.

Este é o caminho dos evangelistas carnais, e de todos os adoradores idólatras e supersticiosos entre os cristãos. Ultimamente surgiu entre nós uma geração que considera tudo o que é dito sobre Cristo como mera fábula.

Em oposição a isso, o Senhor Jesus Cristo chama todos os Seus verdadeiros discípulos para darem testemunho da santidade de Sua vida, da sabedoria e pureza de Sua doutrina, da eficácia de Sua morte para expiar o pecado, e para fazer expiação e paz com Deus, junto com o poder de toda a Sua mediação para renovar a imagem de Deus em nós, nos restaurar ao favor de Deus, e nos levar ao desfrute dEle.

Ele chama todos os Seus discípulos para confessar e expressar isso ao mundo, pois pela  obediência deles Jesus é glorificado de uma maneira especial.

Um testemunho é para ser dado ao mundo e contra o mundo; que Sua vida era santíssima, Sua doutrina celestial e pura, Sua morte preciosa e eficaz, e consequentemente, Ele foi enviado por Deus para Sua grande obra, e aceito por  Ele.

 

Jesus consumou inteiramente a obra de salvação em nosso favor, nada deixando a ser pago por nós à justiça de Deus para sermos tornados Seus filhos amados, porém fomos salvos para o propósito de sermos santificados, e por fim glorificados, de modo que a primeira obra que nos cabe nesta obra de santificação é a de mortificação dos nossos pecados, que tem a ver com o despojamento do velho homem, pois nosso Senhor nos deixou o exemplo com a vida santa, pura e piedosa que Ele viveu desde Sua infância em plena obediência ao Pai, submetendo-se ao governo e instrução do Espírito Santo, durante Seu ministério terreno.

Em tudo Ele foi tentado e provado, mas nunca pecou, e nisto devemos nos esforçar por imitá-Lo ainda que sejamos rodeados de muitas fraquezas, pois pela graça do evangelho e misericórdia de Deus, Ele nos considerará como sendo de um coração puro, caso permaneçamos em contínua luta contra o pecado, com o sincero desejo de glorificar Seu santo nome, vivendo e andando no Espírito Santo, mediante obediência à Sua Palavra.

 

Sobre esta obra já discorremos nas partes anteriores; agora nos dedicaremos a considerar as coisas que dizem respeito ao revestimento e crescimento da nova criatura.

No ato de carregar a cruz nós mortificamos nossos pecados e nos despojamos do velho homem; no de seguir a Jesus, nós nos revestimos da Sua vida na nova criatura gerada em nós pelo poder do Espírito Santo.

Seguir a Jesus é, sobretudo imitar Seu exemplo e nos entregar à obra de sermos transformados mais e mais, à Sua própria imagem e semelhança.

Ao buscarmos continuamente a presença do Senhor através dos meios de graça (oração, louvor, culto, meditação da Palavra, etc.), Ele se manifesta com Seu poder e amor em nós pelo Espírito Santo, criando uma paz, alegria, amor e toda sorte de fruto espiritual que não podemos descrever com palavras, e ficamos abertos para suportar dores e perdoar ofensas - enfim, para sermos achados gratos e alegres em toda e qualquer circunstância, e nisto Ele é glorificado e honrado, porque não podemos ter tudo isso sem a força operante do Seu poder em nós.

 

Nesta jornada da vida cristã rumo à perfeição espiritual há muitas batalhas a serem empreendidas, sobretudo em nossa própria alma, e nisto sendo afligidos seremos tentados a nos deixarmos abater e perder a esperança - contra isso devemos responder pelo exercício da nossa fé no amor, longanimidade, misericórdia e poder de Jesus, para sermos erguidos de nossos abatimentos de alma, e assim prosseguirmos nossa caminhada espiritual com alegria e paz em nossos corações.

Nisto devemos seguir o exemplo que temos no salmista:

“Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” [Sl 42: 11]

 

Das palavras deste Salmo se infere que Deus deve ser louvado, honrado, e digno de nossa confiança em todas as circunstâncias, mesmo naquelas em que o peso de adversidades levam nossa alma a ficar abatida.

Deus espera que nos levantemos desse abatimento pela fé e esperemos inteiramente na Sua graça, para que sejamos fortalecidos e renovados para louvar Seu nome, mesmo em meio às circunstâncias que nos haviam abatido.

Certamente o salmista, e nem nós poderíamos fazê-lo, caso não fôssemos impulsionados pela graça do Senhor, que vem nos despertar e animar para ficarmos de pé.

Evidentemente, esta sondagem da parte de Deus deve ser respondida com a prontidão do nosso esforço para orar, meditar na Palavra, crer na libertação do peso da aflição, etc., pois é dito que muitas são as tribulações do justo, mas de todas o Senhor o livra, e que importa entrarmos no reino dos céus através de muitas tribulações.

De fato somos livrados de todas elas, ainda que nem sempre e imediatamente dos problemas que dão causa à tribulação, mas do peso que a tribulação produz na alma, ou seja, da aflição, angústia, depressão, e todo sentimento e emoção negativos.

 

O principal motivo para buscarmos vencer nossos abatimentos de alma, não é tanto para acharmos descanso e alívio para nós mesmos, quanto para que o nome de Jesus seja glorificado, por mostrar que é o único que pode nos livrar dos laços de morte e correntes do inferno que se apoderam de nós, quando recorremos ao Seu socorro.

A paz que Jesus nos deixou como Seu legado neste mundo é de tal eficácia, que pode ser vista na força, coragem, segurança e quietude de mente e espírito que Ele nos concede em nossos momentos mais difíceis, inclusive na hora da nossa própria morte, pois pode se ver quanta diferença há entre aqueles que andaram fielmente com o Senhor e aqueles que não O conhecem, pois estes últimos estando apegados ao mundo, e pelo horror de deixarem tudo para trás sem saber se haverá ou não algum futuro sombrio e horrível para eles, entram em terrível aflição e desespero na hora que são convocados a deixar o corpo.

 

Há muitos propósitos de Deus em permitir que Seus filhos sejam muito atribulados neste mundo, notadamente aqueles que se referem à santificação e exercíco da fé deles.

Há grande valor e sabedoria espiritual em conhecer o modo como os abatimentos de alma devem ser considerados, suportados e vencidos pela fé no Senhor e na graça que Ele supre aos que O amam.

Bem-aventurado é o crente que é amadurecido nestas coisas, pois guardará a fé, triunfará no dia da tribulação, e permanecerá inabalável depois de ter vencido tudo.

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/11/2021
Reeditado em 22/02/2022
Código do texto: T7388523
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