A PATERNIDADE DE DEUS.

“Que tendes vós que dizeis esta parábola acerca da terra de Israel dizendo: os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor Jeová que nunca mais direis este provérbio em Israel.” Ezequiel 18:2,3.

Eu me surpreendo com os arrazoados psicológicos que o homem engendra para se eximir da responsabilidade de ser agente de seu próprio destino. A grande tendência humana é inventariar inúmeros “culpados”para justificar esta ou aquela situação que lhe tenha advindo como consequência de suas próprias escolhas. Isso é tão antigo quanto a humanidade.

Já em Israel, ao tempo em que vivia o profeta Ezequiel, essa maneira de pensar era largamente difundida: “os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram”. Essa era a justificativa encontrada para explicar o estado de extrema decadência moral em que se encontrava a nação outrora tão abençoada. Mas o Senhor Deus põe um fim a esse maneirismo psicológico quando diz: “nunca mais direis este provérbio em Israel.” Deus jamais consentiria que as consciências continuassem a ser acalmadas com um axioma tão barato e tão isento de responsabilidade pessoal.

Na verdade, ninguém pode fugir do fatalismo da filiação natural apenas até que chegue à idade da razão. Dali para frente, qualquer um de nós, independente da herança atávica que recebemos, podemos transformar nosso destino, o destino de nossa casa, o destino de nossa nação.

Isso me leva a pensar nas heranças de tradição religiosa que são legadas de geração a geração e que se aceitam passivamente, sem questionamentos mais profundos. De alguma maneira misteriosa, por trás do apego às tradições, existe sempre uma transferência de responsabilidade, como se perpetuar sacrifício de tolos fosse – pasmem! - não somente um dever filial mas uma fatalidade inevitável e intransferivel.

Embora o indivíduo tenha toda liberdade para se mover e realizar os seus atos de cidadania consciente, quando chega a hora de examinar e provar as escolhas espirituais, ele se defende da mudança alegando uma pretensa paternidade espiritual. Para tudo o indivíduo tem escolha, menos para conferir na Bíblia Sagrada de onde provêm a sua religião, quais os fundamentos da sua fé – se é que eles existem.

E foi refletindo em tudo isso, no quanto precisamos de coragem para assumir a nossa verdadeira identidade, não aquela que nossos pais construiram em nós mas aquela que Deus quer imprimir em nossas vidas, foi pensando em como é sutil esse processo de mudança, que eu me lembrei da experiência que tive com um livro de conteúdo espiritual.

Há algum tempo atrás, fui atraída para esse livro porque li o comentário de uma pessoa que dizia: “se eu tivesse que ir para uma ilha deserta e me oferecessem a possibilidade de levar comigo apenas dois livros, um seria a Bíblia Sagrada e o outro este livro" Adquiri um exemplar logo depois. Mas qual não foi a minha decepção quando me deparei com um conteúdo que me pareceu massante e cansativo.

Alguns anos se passaram. Novamente, por acaso, voltei a ter o livro em minhas mãos e dessa vez o livro teve sabor. Não era mais insípido. Quem mudou? Com certeza, eu mudei. A vida tem me ensinado a ser mais disciplinada e o conteúdo do livro nada mais é do que um manual prático para quem aprendeu a suportar o jugo da disciplina de Deus.

Com certeza, o homem é um ser em permanente mutação. Que esse processo de mudança seja consciente, seja desejado, seja burilado com a permissão do homem mas que seja, sobretudo, orientado pela ação do Espírito Santo de Deus. Ele é o único capaz de nos dar a visão de que, se os pais comeram uvas verdes, não é absolutamente necessário que os dentes dos filhos fiquem embotados.

Por que? Porque maior que a paternidade do homem existe ,indelével em nosso espírito, o poder da paternidade de Deus, esperando pela nossa aceitação para ser acionado. Essa paternidade está diretamente relacionada com a natureza de Deus. Tudo o que Deus é, com exceção da deidade, pode ser imprimido em nós. O caráter de Deus com todos os seus atributos de bondade e justiça pode permear o nosso ser, os nossos atos, as nossas escolhas, fazendo de nós seres chamados, transformados e conformados à imagem e semelhança de Cristo. Isso envolve um processo, um metabolismo, uma mudança. Mas essa mudança precisa ser voluntária. Precisamos querer mudar. Precisamos nos compreender como seres espirituais, saindo da esfera do paternalismo genético.

Esse é o nosso desafio, a nossa luta subjetiva de cada dia. Encará-la com determinação só é difícil no começo. Na sequência Deus cuidará de nós, como um Pai amoroso cuida de cada detalhe da vida do filho.