Relógio

Dos mais ferozes animais do lar que já se teve

Jamais algum faz par ao relógio de parede

Com o bote claudicante, frouxo, mortiço

Mas com mais força que um píton faminto

Arrasta a todos de um lugar a distinto

Sem o pudor de não expor em sua face

As fatias de que se não demonstrasse

Caberiam nelas tempo infindo

Passam-se rápido as horas

Mas em um segundo caberia uma pré-história

Com dentes de minutos como grilhão

Já vi ser devorada toda uma geração

Espero, também, pela lâmina afiada

Dessas horas esfomeadas

A me garfar em bocadas sacias

David Leite
Enviado por David Leite em 30/11/2017
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