CASA DE PRAIA

na mão direita uma mulher guarda chaves cegas

e na esquerda, uma chave partida

na boca, gosto de cobre

e um silêncio de lesma

escorrendo

apesar de cega, ela vê

colada à lâmpada acesa do abajur

uma mosca dançando a dança do ventre queimado

vê que o ar

um menino azul

sopra bolhas de sabão e arco-íres

vê sentado à mesa

um homem fazendo as contas

e escrevendo-as num livro

com tinta de sangue e carvão,

os ouvidos zunindo de ouro e besouros

vê ainda a vida,

um anjo caído

despencado no tapete

batendo asas barulhentas

e perfumadas como cachos

amarelo-solar de banana-prata