REFÚGIO NA PALAVRA

 

Comecei a escrever umas estórias,
depoimentos quebrados,
coisas sem sentido,
como quem costura o vento
com linha de silêncio.

 

Refugiei-me
nas frestas do verbo,
onde o mundo não grita
e a alma pode cochichar

com a página em branco.


Mas logo enjoei do que escrevia:
as frases, tão minhas,
soavam rasas diante
da vastidão da língua,
que me empresta sua pele
sem jamais me dar o osso.

 

Percebi, enfim,
que essa língua,
essa mata encantada,
é grande demais para as mãos
que mal aprendem a adentrá-la.

 

Então calei.
Não por desistência,
mas por reverência.
Dispus-me a ler outros mais:
aqueles que andam de mãos dadas
com os abismos do sentido,
e que, no escuro,
ainda acendem palavras
como quem acende estrelas.

Kélisson Gondim
Enviado por Kélisson Gondim em 05/07/2025
Código do texto: T8375463
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