UMA VIAGEM ESPÍRITA

Ah, como é bom um feriado prolongado! É como pequena férias em que podemos nos desvencilhar das questões transitórias do sistema e nos esbaldarmos no sol, na água, na relva, na beira do rio, nos shoppings, seja onde for, ao gosto de cada um.

Era um desses feriados que se aproximava e já estávamos cheios de planos na cabeça!

- Que tal uma praia? Ou quem sabe um hotel-fazenda... uma excursão ao sul do Brasil? Cada qual por sua vez propunha... Muitas eram as opções, e nos colocávamos a pensar e discutir.

Exaustos de quebrar a cabeça, propus à minha esposa Tânia fazermos uma viagem espiritual?

Tomada de certo espanto ela indaga: “Como assim viagem espiritual?”

Na verdade, há uns quinze anos atrás já havia feito uma viagem assim com minha ex-esposa, e foi uma interessante experiência. Pensei comigo, será muito melhor com aquela que considero minha alma gêmea, com quem espiritualmente me uni.

Espírita que somos, a idéia era visitarmos Uberaba, Sacramento e Franca, onde o movimento espírita é dinâmico e guardam maravilhosos episódios de pioneiros da Doutrina.

Tudo certo, fizemos breve pesquisa na Internet, traçamos um plano com pouco rigor e nos colocamos a caminho. Saímos de Poços de Caldas, nosso domicilio querido, seguimos em direção à Extrema, onde deixamos nossas meninas com a avó, e de lá rumamos à Campinas para depois seguirmos em direção à Anhanguera e daí direto para Uberaba, onde pretendíamos pousar e permanecer por dois dias.

A viagem um tanto longa e cansativa, com seus intermináveis pedágios, no entanto foi boa, ao som de músicas dos anos 70 e 80, o que já se constituiu numa terapia, levando-nos a rememorar os anos dourados de nossa juventude.

Chegamos a Uberaba já no início da noite e após nos depararmos com dois hotéis lotados no centro da cidade, acabamos encontrando outro mais afastado, onde nos hospedamos e nos entregamos ao repouso necessário.

No dia seguinte, após um delicioso desjejum típico mineiro, grande foi a nossa surpresa ao sabermos que estávamos há poucas quadras da casa onde morou Chico Xavier e do Centro Espírita da Prece, onde ele operou sua magistral mediunidade por longos anos, onde tantos corações foram confortados.

Seguimos inicialmente ao Centro Espírita da Prece, que estava fechado e infelizmente não mantinha trabalhos as quintas-feiras. Dali, seguimos em direção à Casa onde Chico viveu.

Transformada e remodelada, ao chegarmos ficamos um tanto apreensivos, visto termos encontrado um prédio moderno com bem instalada livraria, com TV de plasma enorme, obra que foi construída no pátio em frente à casinha pelo seu sobrinho, que controla o pequeno museu. Mas bastaram poucos minutos para percebermos que logo atrás à nova edificação, permanecia humilde e intocada, a moradia de Chico, com seus móveis originais, seu quartinho aconchegante e na parede o famoso porta-bonés, única peça de vestuário que o Chico na sua vaidade pura conservava com esmero.

O ambiente é mágico. Uma energia branda e suave invade o coração e parece nos purificar à alma. Sentimo-nos como pequeno inseto diante da grandeza de alma do Chico, traduzida por sua imensa bondade e desapego, além das obras que mudaram a mentalidade religiosa de muitos brasileiros, ratificaram a terceira revelação divina e abriu um horizonte novo ao nosso sofrido, ignorante e materialista planeta.

A impressão que se tem em sua moradia é a de que Chico está junto de nós, andando pela casa, lendo mensagens e sorrindo aos que o visitam, como fazia quando encarnado. É comum vermos pessoas chorando, sem motivo aparente, e uma emoção incontida deixa nossos olhos marejados de lágrimas e nossos corações comovidos.

Após nos extasiarmos de energias brandas e sublimes daquele abençoado cantinho, retornamos ao hotel, onde ficamos ruminando aqueles doces momentos.

O que fazer mais em Uberaba, onde infelizmente notamos uma falta de zelo e informações por parte das autoridades da cidade, no que diz respeito ao movimento espírita. Parece depreciar a dádiva de ter recebido a presença ilustre e iluminada do grande benfeitor do século XX! Certamente, o tempo irá lhes mostrar que acolheram um dos grandes missionários da história e irão se orgulhar muito disto.

- Que tal fazermos um pouco de turismo, propus à Tânia?

Na verdade queria lhe fazer uma surpresa, pois havia pesquisado na Web que bem perto dali, numa vila chamada Peirópolis, encontrava-se um importante centro de Paleontologia, onde foram encontrados os primeiros e maiores ossos de répteis pré-históricos brasileiros... E prá lá nos dirigimos.

Peirópolis é um local místico, simplesmente contagiante, de uma energia inexplicável. É uma vilazinha pertencente à Uberaba, onde existe uma estaçãozinha de trem desativada, um casarão que se tornou pousada, um museu de arqueologia bem equipado, árvores seculares, rodeados por uma vilazinha habitada por pequenos sitiantes. Todavia nos decepcionamos um pouco, porque naquele dia fomos informados pelo segurança que o museu não abriria.

Saímos a caminhar por entre as pequenas vielas e nos deparamos com um centro espírita denominado “Frederico Peiró” que, mais tarde fomos informados ter sido a segunda casa espírita estabelecida no país. Continuamos nosso passeio e uma tabuleta anunciava que seguindo um caminho após a porteira encontraríamos o “Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo”, onde, de forma um tanto intrometida, soltamos a cancela e seguimos em direção à instituição. Nos deparamos logo à frente com um pátio de terra batida, circundado de grandes arvoredos, e ao fundo lá estava a pequena casa espírita. Sentamo-nos em um rústico banco de prancha de madeira e logo em seguida fomos recebidos por uma senhora que nos informou que às 13hs. ocorreria um trabalho espírita de consultas e receituário de medicamentos fitoterápicos.

Tudo aquilo nos deixou ainda mais animado, e aos poucos foram caindo minhas “fichas engastalhadas”, porque nos anos 90, esteve em nossa cidade, por duas vezes, o Sr. Langerton, pioneiro desses tratamentos, realizados por fórmulas que recebeu do iluminado espírito Bezerra de Menezes, e eu nutria há muito tempo o desejo de conhecer esses trabalhos, mas, por um equivoco meu, pensava que ele procedia de Goiás, da cidade de Pirinópolis.

Desfeito o engano, fiquei feliz, pois me encontrava onde um dia queria estar, e os bons espíritos sabiamente, nos levaram.

Tomamos uma refeição bem mineira, com tutu de feijão, torresmo, ovo caipira, couve refogada ao alho, galinha caipira com quiabo e outros quitutes, e em seguida retornamos ao pátio, onde registramos os nossos nomes e ficamos aguardando.

Pessoas foram chegando, e finalmente, contávamos cerca de 30 indivíduos ansiosos de externarmos nossos males do corpo de da alma.

Emília, uma mulata bem humorada, filha do Sr. Langerton, que dá continuidade aos trabalhos de seu pai, reuniu a todos em uma roda e iniciou uma série de palestras, contando de forma irreverente as façanhas vividas pelo Langerton, deixando a todos muito atentos, enquanto eram chamados de três em três por ordem de chegada, as pessoas para a consulta.

Foi um dia maravilhoso. Fizemos nossa consulta e poucos minutos após já estávamos recebendo nossos remédios, todos elaborados dentro do mais rigoroso esmero e higiene, e como deve ser, gratuitos.

Após visitarmos um local bucólico, onde um ribeirão forma pequenas cachoeiras e corredeiras, retornamos à Uberaba com uma gostosa sensação de corpo e alma refeitos, e tínhamos a intenção de participarmos dos trabalhos do Dr. Carlos Bacelli - continuador das tarefas espirituais de Chico Xavier - no dia seguinte. Os trabalhos ocorrem aos sábados no Centro Espírita Paulo e Estevão, com início às 7 da manhã.

No dia seguinte, levantamos cedo, tomamos nosso café e pouco antes das 7 da manhã, lá estávamos e não havia mais lugar para nos sentarmos.

A casa estava lotada. Cerca de 400 pessoas se amontoavam nas janelas, nas portas, nos corredores, todos ávidos de notícias do além.

Diversas palestras e números musicais com cantores e corais são apresentados, enquanto Bacelli, assessorado pela sua pequena equipe, operam a transcrição das mensagens dos que já se foram.

O ambiente é silencioso, não obstante todos registram o tempo todo com suas câmeras e filmadoras as atividades decorrentes.

Após uma hora e meia de transcrições psicográficas, começam as leituras das cartas e não há quem não se comova com os detalhes externados pelos que tiveram a permissão de se comunicarem com seus entes queridos, dando relatos detalhados de seu desencarne, extirpando dúvidas e acalentando os saudosos. Melhor do que isto, quanto aprendemos e refletimos à respeito desta aparente distância entre os “vivos e mortos”?!

Foi um trabalho divino. Naquele ambiente sentimos de verdade a força vibratória da Doutrina Espírita, dinâmica e transformadora, mostrando-nos o que nos guarda o futuro para o coração do mundo e pátria do verdadeiro evangelho.

Deixamos Uberaba com uma sensação de paz e alma refeita, e seguimos em direção à Franca, onde já havíamos planejado conhecer o IMA (Instituto de Medicina do Além), onde o Espírito Dr. Alonso opera curas espirituais através do médium João Berbel.

Infelizmente naquele dia, por recomendação médica, os trabalhos de cura de João Berbel foram suspensos. Mas não foi perdida a nossa visita. Nos adentramos ao instituto e ficamos perplexos com o seu tamanho. E quando estávamos caminhando por entre os aposentos, fomos abordados por Ricardo, um colaborador da entidade que estava atendendo as pessoas que ali adentravam. Muito solícito, nos informou que ao fundo a entidade mantém um hospital psiquiátrico, com muitos leitos e nos posicionou sobre os trabalhos: Às quintas-feiras, a partir das 19 horas ocorre um trabalho de desobssessão, com a presença de mais de mil pessoas e uma equipe de 300 colaboradores voluntários, onde muitas almas são libertadas, com técnicas especiais ditadas pelo Alto, das malhas obsessivas; e às quartas-feiras a partir das 18 horas, e sábados com início ao meio dia, são realizados os trabalhos de consultas e tratamentos espirituais, tudo isto totalmente gratuito e muito organizado. Após recebermos o passe oferecido pelo próprio Ricardo, nos despedimos contentes e tomamos o rumo de volta.

Foi uma viagem e tanto e que todo o espírita, ou mesmo simpatizante da doutrina deveria fazer um dia.

Lamentamos o fato de não ter havido tempo suficiente para irmos à Sacramento, onde Eurípedes Barsanulfo escreveu uma das mais lindas histórias do Espiritismo no Brasil.

Mas de uma coisa temos certeza. Esta foi a primeira de muitas viagens espíritas que pretendemos fazer pelo Brasil em fora, e se possível em todos os locais do planeta onde o Espírito Verdade e a equipe de Espíritos Consoladores plantaram as sementes de um novo tempo. Tempo que já podemos antever. Tempo de regeneração e paz.

Tião Luz
Enviado por Tião Luz em 13/05/2011
Reeditado em 12/11/2012
Código do texto: T2967642
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