O fruto do chão.
O que há por dentro de mais profundo e inexplorado.
É colocado para fora com a visão distorcida pela intensidade.
Tenta-se viver as pequenas alegrias de um dia elaborado.
Confia-se no senso próprio de distinguir o que é real do que são falsas promessas.
Mas se esquece que a confiança é uma série de passos no escuro onde quem traz a luz nem sempre entende o seu papel.
A sombra de quem guia se emenda com a nossa própria.
E se torna impossível não gerar as tais das expectativas.
Pois todo ser respirante nasce com a esperança em si e pelo próximo.
É contra nossa natureza imaginar uma vida sem decepções.
São professoras da mais importante matéria: o saber se manter vivo.
Pois cada fruto que cai serve de alimento para um passarinho atento.
O passarinho não entendia porque os melhores frutos pareciam ser os machucados do chão.
Mas sentia a urgência da fome e decidiu se alimentar por ali.
Bem nutrido então pelas adversidades, ele entendeu que continuar era preciso.
Mesmo que seu tórax não conseguisse ainda expandir totalmente o ar inspirado.
Mesmo que desejasse encontrar o fruto que lhe encaixasse melhor no bico.
Alçou vôo oscilando entre a incerteza de seus próximos passos e o medo de não identificar o seu fruto ideal quando o encontrasse.
Veio então em sua mente um ensinamento de um sábio amigo:
-Antes feito do que perfeito.
Sorriu pela lembrança e notou que não importava o que já tinha passado: suas asas eram fortes o suficiente para o levarem para qualquer caminho que decidisse seguir.