A morte antecipada

Perguntei-lhe sobre o gato branco tão dócil de minha irmã. Disse-me que estava há dias doente e acabou por morrer. Reforçou a história, lamentando o genro que veio há pouco cavar uma sepultura para o coitado, no quintal já lotado de animais enterrados ao longo de setenta anos. Acreditei.

Numa próxima visita a mamãe, deparei-me com o gato, muito gordo escarrapachado, aproveitando o sol da tarde. Ela ficou estarrecida e constrangida, sem saber o que falar a respeito de sua invenção cabulosa.

Na semana seguinte, contou-me da grave doença do cãozinho branco, que foi eutanasiado para poupar-lhe o sofrimento. Não acreditei. Entrei até a sala e sentei-me ao sofá, de onde pude ver o cunhado carregando a bolinha de pelos brancos em direção ao cemitério.