Tom and Jerry - O Gato não Calça Botas

Subtítulo: Economia em Tempos de Corona

Em vez de calçar as patas, o meu Gato siamês de pelagem rajada clara, enfiou a cara em uma bota; ficando as patas, o rabo e mais alguma coisa, suspensos no ar.

Perguntado pelo Rato camundongo, que cheiro há lá dentro, se não estava com torcicolo no pescoço por ficar em uma posição nada cômoda, como àquela, e o porquê da mudança brusca de comportamento, respondeu curto, seco e grosso: "dessabastecimento".

- dessabastecimento, como pode isso, se vou ao supermercado e as prateleiras estão cheias de peças de queijos, mussarelas, potes de catupiri? Dá vontade de comer tudo. - passou a linguinha nos pequenos beiços e entre tosse e limpeza do pigarro na garganta, retrucou o Rato.

Repetiu raivoso o Gato: "Rato, não encha o saco: dessabastecimento, sim.

Aconsellhou: "queira-se bem; use máscara no focinho, higienize as mãos com álcool gel graduação 70 à cada 10 min. E por favor, entoque-se em vossos buracos. Não serei Eu, cúmplice de nada. Qualquer coisa, leia o D.D.O.A: Decreto no Diário Oficial dos Animais".

- Eu não tenho medo de nada. Prova que estou aqui de corpo e alma, falando com você. Midinha, minha esposa está prenha e vendo o ultrassom, será gêmeos. Já escolhemos o nome: Corona e Covid. Saia daí, já!

- vai passear. Pare de encher. Dessabastecimento. O meu problema é dessabastecimento.

- não tem ninguém que trata de você. Será que és o único Gato infeliz no mundo?!

- Lalalá...lalá.

- Vai, responda. Gato comeu sua língua? Não seja indiferente. Por favor, considere-me amigo e desabafe porquê está assim: sorumbático, depressivo, irritado, indiferente.

- dessabastecimento. Sabe, vou acabar com essa pendenga, um segundo...; vou ver o que há na despensa para degustar.

- não, calma. Espere, seja democrata, vamos conversar, discutir o que está acontecendo mundialmente, colocar os pingos nos "Is". Regime Democrático de Direito manda e regulamenta que todos bichos devem viver no mesmo nicho ecológico em harmonia, em paz indo e vindo, sem um amolestar ou comer o outro. É o que está escrito e assinado. Calma...; muita calma!

P.S.: Outra boa sacada é explicar amiúde para os filhos, o que significa honestidade, respeito, seriedade e bom senso, coisas que a gente fala dentro do lar, mas de ambas, ninguém é agente.

Ô doido, como é difícil aplicar os conhecimentos da língua da portuguesa no nosso beijo tosco de cada frase, proferida em cada segundo de vida; pois, não obstante, a não ser o deficiente mudo, calado é que não dá para ficar.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 25/04/2020
Reeditado em 25/04/2020
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