A missionária

A gente se conheceu no samba lá da Rua dos Bancários, no centro de São Paulo.

Ela, uma missionária que percorria o mundo em busca de corpos dispostos a doar um pedaço de si aos miseráveis da África Subsaariana.

Eu, um parvo — sempre apaixonado. Minha mãe sempre disse que é muito fácil me enganar.

Tomamos conhaque de uva. Ela me seduziu com suas histórias e gestos delineados. Será que também estava apaixonada por mim?

Fomos a um motel ali perto, na Rua Guanabara.

Nos devoramos inteiros. Lambi seus dentes, suguei sua língua, e a possuí com fervor e sussurros. Ficamos exaustos.

Adormeci primeiro. Sonhei que nadava em um lago congelado, até perder as forças e não poder mais respirar.

Acordei com uma dor lancinante.

Ela cumprira exatamente o que dissera: cortou-me como só uma notável cirurgiã poderia — e levou um de meus rins.

Era uma troca? Sim.

Escreveu com batom no espelho do banheiro:

“Noite inesquecível. Levo um pedaço de você, mas deixo algo de mim — uma recordação de nosso beijo.”

Ela deixou um dente na pia.

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 19/06/2025
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