Ela se foi sem dizer adeus

Ela saiu de casa. A briga ainda queimava em seu íntimo. Sentada no banco da praça, ao lado uma sacola de supermercado e algemas. Pôs uma algema num pulso. O outro ainda livre. A sacola não tinha furos, botou na cabeça, e para garantir, usou um saco ziploc. Tomou ar e passou fita ao redor do pescoço e fechou a outra algema de forma que estava impossibilitada de ter as mãos próximas do pescoço. De primeiro momento, uma estranha sensação, aquela que se tem de exalar o ar para trocar o carbono por oxigênio, e depois o plástico grudando na boca, entrando nos lábios, vedando a passagem de ar. Desespero. O corpo se debate, espasmos involuntários. A praça é pública, todos olham com pena, ninguém se atreve a ajudar. Uma criança aponta e começa a chorar, a mãe a põe no colo e apressa o passo. Ninguém vai ajudar a suicida apaixonada. O causador de sua miséria está em casa, remoendo as palavras duras proferidas. Arrependido, mas sem vontade de dar o braço a torcer. Ela vai me perdoar, pensa ele. O ar não entra mais naquele corpo, a polícia se certifica bem disso antes de soltar as algemas cor-de-rosa com cetim. Como essa porcaria não estourou enquanto o corpo se debatia, pensava o policial. O governos deveria usar dessas nos bandidos. Riu e se conteve, falta de respeito com o cadáver.

Edivana
Enviado por Edivana em 19/06/2015
Código do texto: T5281943
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