NUMA RUA ESCURA E DESERTA

          Essa noite, andando por uma rua escura e deserta, não poderia acontecer outra coisa, fui assaltado.
          O ladrão, acho que drogado, me abordou e me intimou: Perdeu coroa, entrega o celular. Entreguei numa boa. Mas como meu celular é muito comum, sem valor nenhum, ele me devolveu.
          Pediu minha carteira. Não entreguei. Pois não estava com medo. Vi que a arma era de brinquedo. Mas ele sacou uma faca, bem afiada. Desferiu-me vários golpes. Não me matou por falta de sorte, digo, por falta de corte. Não me acertou nenhum golpe.
          Ele me golpeava por cima, eu me abaixava. Me golpeava por baixo eu pulava. Eu levava uma certa vantagem. Na noite escura a faca brilhava. E por eu ter a pele escura, ele não me enxergava. rsrsr... De tanto pular e me abaixar eu cansei. Mas ele também cansou.
          Ficamos parados, olhando um pra cara do outro, ou melhor, eu olhando pra cara dele e ele olhando pro branco dos meus olhos. Então eu pensei: Na verdade nem pensei, orei: Pai, afasta de mim esta faca... Fui atendido. Sabe aquelas ligações por engano que a gente recebe no meio da noite? Então, o meu celular tocou. E eu me acordei suado. E disse a Deus, muito obrigado, por ter sido apenas mais um sonho!