CONSTRUINDO O CARÁTER

DA SÉRIE

CONTOS CURTOS

CONTO NÚMERO 25

CONSTRUINDO O CARÁTER

Eram tempos bons... tempos de adolescência, de juventude, tempos de tudo poder fazer e acontecer. Geraldo Damares Conde tinha acabado de passar no vestibular para engenharia elétrica entre os primeiros colocados.

Inaugurava, com amigos de colégio, a transição dos sempre alienados conhecidos como ¨cú de ferro¨ para os ligados ¨nerds¨. De comportamento diferente dos CDF´s, aproximavam-se mais da condição de humanos, demasiadamente humanos. Bebiam, namoravam, se encontravam fins de semana em barzinhos da hora para papos impagáveis regados a cerveja e garotas, mas na faculdade, mantinham o elevado padrão que desde sempre marcaram suas trajetórias, inicialmente como estudantes, depois como profissionais.

Num sábado de verão, Conde estava na casa da namorada, futura esposa que tinha conhecido há pouco tempo através do amigo Ademar, afinal, todos da turma tinham namoradas... do intelectual tímido e fechado Edvar ao irreverente Batista.

De repente, do nada, surge seu futuro cunhado que cursava os primeiros anos da faculdade de medicina, tremendo da cabeça aos pés, balbuciando com dificuldades: - acabei de atropelar uma pessoa, juro que não foi minha culpa. Ele correu pra cima do carro, a batida foi forte, acho que o matei.

De imediato Conde bradejou: - vamos voltar lá, no que o assustado acadêmico retrucou: - Cê tá louco? Não entendeu? Acabei de matar um homem.

- Como você pode ter certeza? Só tem um jeito, voltando lá. Não se preocupe, vou ficar do teu lado.

Hesitante e morrendo de medo, o angustiado motorista concordou.

Ao chegar no local do acidente descobriu que, além de não ter causado nenhuma lesão séria no acidentado, descobriu que o mesmo estava correndo da polícia por uso de drogas e pasmem, era um colega de turma do curso de medicina.

Voltou aliviado e, na semana seguinte, se encontrou com o famigerado colega para dizer que ele podia ter estragado sua vida. Este, meio que embasbacado respondeu: - tá delirando meu? Não me lembro de nada que aconteceu no sábado... tava muito lombrado, mas atropelado eu não fui.

Quase quarenta anos depois, já não cunhados, mas ligados por uma amizade que extrapola qualquer sentimento mundano, o médico experiente agradecia ao amigo irmão entre um e outro gole de ¨cefessa¨, pelo aprendizado de uma das mais importantes lições de vida, que muito facilitou sua jornada existencial: ENCARAR DE FRENTE TODO E QUALQUER PROBLEMA, independente da gravidade e da natureza.

Marco Antônio Abreu Florentino

https://youtu.be/0u2mgidVKP8

(Smile - Eric Clapton)