O BICHO GRANDE

Ele não via a hora de encontrá-la novamente. Ela virá. Não é de faltar, nunca faltava. É mais fácil a noite não vir e o dia ser eterno que ela faltar.

Vivia ansioso desde que identificou esse sentimento dentro de si. Custou a perceber e quando percebeu o bicho já estava lá, grande. Se tivesse percebido ainda pequenininho, então teria sufocado. Tentado matá-lo. Mas ele cresceu sem ser visto e agora parece transbordar pelos olhos. Ela talvez não ainda não tenha percebido nele. Ela continua a lidar com a situação de forma burocrática, profissional. Atenciosa, como sempre, com todos. Mas ele sempre via um sorriso a mais, somente para ele, um gesto sedutor que na maioria das vezes nem acontecia. Mas ele fantasiava. Em casa, na hora de dormir, o sono demorava. Imaginava-se com ela em lindos passeios. Na excursão de final de ano na praia. Seria perfeito os dois passeando frente a imensidão azul, sob o sol queimando a pele.

Ela chegou. Ele se acomodou na cadeira e fixou os olhos novamente nela e esperou as palavras de sempre:

— Boa noite, turma. Depois da chamada, vamos abrir o livro e seguir com o conteúdo. — sentou-se e começou chamando-o pelo nome. — Abelardo.

— Presente. — mais uma vez ele sorriu feliz por ela ter lhe chamado primeiro.

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 07/06/2018
Reeditado em 07/06/2018
Código do texto: T6358218
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