A volta

Ela estava sentada no banco da praça, sozinha. A tarde estava fria e o céu com um cinza escuro, mas a chuva parecia longe. Ela pensava em manhãs de sol e chegava a ouvir passos do passado. Queria ficar só, pensar, ordenar as amarguras para poder recomeçar. Era final de agosto e tudo o que ela sabia era que as coisas não mais seriam como antes. Mas as coisas nunca são como eram, tudo está em constante mudança, é a velha história do rio. Ela lembrou-se da mãe e sentiu saudade. Talvez fosse a única coisa boa naquela história de perdas. Já não tinha certeza se havia feito as melhores escolhas; deixar sua casa e seus amigos para trás, tudo por causa de uma aventura, tinha resultado apenas em desilusão. Seria muito tarde para recomeçar? Voltar aos estudos, fazer a faculdade dos seus sonhos? E religar os pontos onde haviam sido quebrados? Ela antevia várias coisas, principalmente sua mãe lhe recebendo de braços abertos e depois lhe repreendendo entre lágrimas. Via-se também na sala de aula, pegando as matérias atrasadas, esforçando-se para fazer os trabalhos, reabrindo a mente, que havia se fechado por um tempo. Vinham lembranças antigas e recentes. E aquele mundo novo, que ela construíra, conseguiria abandonar? Voltar ao início no meio? Mas no fundo ela sabia que tudo aquilo era ilusão, que não existia nenhuma vida nova, apenas repetições de velhas cenas, que carregava os mesmos fardos. Aquele sonho, como tantos outros, tinha se tornado um pesadelo. No fundo, antes mesmo de se aventurar, ela já pressentia o desastre. Mas era preciso ir e descobrir por si mesma até onde suas forças a levariam. Se até o horizonte ou mais além. Ela já tinha as respostas, não eram tão satisfatórias, mas serviam, por enquanto. Ela se encolheu no banco, cruzou os braços, com frio... a chuva se aproximava. Era hora de voltar para casa. Decidiu.

João Barros
Enviado por João Barros em 09/08/2018
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