Seleção

Tinha as mãos trêmulas e molhadas e o coração batendo mais forte que o normal. Ela passou o dia selecionando as palavras que iria dizer, ensaiando os diálogos, imaginando as perguntas.
Agora faltavam poucos minutos para sair de casa e os passos no salto alto eram indicativos de que há muito tempo eles não eram usados.
Pediu o táxi e seguiu para o seu destino. Estava tão acostumada às intermináveis reuniões na empresa onde havia trabalhado por mais de quinze anos que não compreendia o porquê de estar tão ansiosa por um encontro com um estranho que duraria no máximo vinte minutos.
Mentalmente tirou o pé do acelerador que tinha na caixola e deixou fluir um sorriso com naturalidade. Falou o que tinha de falar sem se lembrar sequer de uma frase ensaiada.
Mas no final, parece que não ouvia bem as palavras do seu interlocutor , os pés suados começaram a escorregar nos sapatos e as mãos voltaram a pingar de tanto suor. Mas em fração de segundos, recobrou a postura e sorriu ao se lembrar o que acabara de ouvir do recrutador:
- Muito bem, a vaga é sua. Que dia pode começar?