Espelho, espelho meu...

Ela olhou-se no espelho, mas uma vez e perguntou:

- quem sou eu?

O espelho respondeu repetidas vezes:

- ninguém..

O espelho, o seu próprio espelho.

Que crueldade, é essa sua senhor espelho.

Diversas vezes ela havia se desculpado com ele, camuflando seus assombros e pesadelos.

Na corrida pela vida foi atropelada por seus muitos infortúnios.

Mas o espelho a confrontou em uma noite fria e enfadonha, e a fez chorar lentamente. Parecia que podia contar cada gota de lágrima que rolava de seus olhos.

Confrontada por seus fracassos, admitiu ter medos insignificantes. Tirou a culpa de outros, e as colocou em si. Admitiu enfim seus assombros.

O espelho chorou com ela, lentamente. Mas ao fim reconheceu-se, embora ainda não definida a sua imagem, pode reconhecer enfim a sua individualidade e enxergar alguém no reflexo de seu espelho.