Hipocondria
Estou hipocrondríaco por médico, ou homens de jalecos brancos, como costumo dizer; e como não bastasse o psiquiatra, o otorrino, o dentista, o ginecologista, o nefrólogo, o calista, o clínico geral, o ortopedista, o penista, o dermatologista, o oncologista, o psicanalista, o vaginista, os quais consulto regularmente, ou de mês em mês, tenho que ir ao fonoaudiólogo, urgente saber o porquê ao falar, de repente gaguejo, engarrancho a língua nos dentes.
Por exemplo, tenho fundindo a expressão O pobre, aí ó!... em opróbrio. E o pior, nem sei o poder aquisitivo dela, qual seu ídolo político, para qual time torce, qual sua idade em anos, em que país nasceu, se tem intestino preso, se trabalha ou é sindicalista, se vai assistir à decisão da Libertadores no Peru, se tem acompanhado o óleo na costa marítima nordestina, se e de esquerda ou direita, socialista/lulista ou capitalista/bolsonarista, bem como o que esse bicho de palavra, come e bebe.
Concordo com o que ouvi de meu psiquiatra, quando cuspiu na minha cara, olho no olho, que eu estou ficando louco e devo, urgentemente, ser internado no hospício e preso à cama om camisa de força e tudo.
Maldita loucura que comigo some e em doses homeopáticas, me consome.
Moribunda...
Ouvindo os zunzunzuns dos parentes sobre limpeza, do amor desprendido à cozinha, forno e fogão, dos dotes de uma exemplar prendas do lar, ao lado da cama, a bisa deu o último suspiro:
"pena a muierada atuarrrr só sabê cumê,
suja aságua,
fabricá minino sem sabê cuma faz,
sem sabê cuzinhá.
A muierada é tudo fast fode. Coitado dos omi que casá com uma das muié atuarrrr! Vai pagá caro"!
Abismados, todos voltaram às vistas para a velha centenária. A Moribunda virou a cara de lado no travesseiro e resmungou: "dado o recado, posso sumi do mapa". Dito e feito.