Cristo Gaúcho

Perseguindo a vibração

desta estrela imorredoura,

Piazito da manjedoura,

peço a Tua proteção.

Não sei fazer oração,

pois sou rude deste jeito,

mas com todo o meu respeito

Te entrego o meu coração.

E ao Te ver lindo, Menino,

nesta triste estrebaria,

eu reprovo a judiaria

que Te reserva o destino,

mas Teu olhar cristalino

manda minha voz calar;

quem sou eu para mandar

contra algum plano divino?

Mesmo assim, eu gostaria

de Te ver nascendo aqui.

No Rio Grande, para Ti,

um rancho não faltaria.

Acolher com galhardia

neste pampa é qualidade

e a nossa hospitalidade

não aponta estrebaria.

Terias cama macia,

talvez feita de pelego,

muita paz, muito sossego,

o pago Te ofertaria

e para atender Maria,

quando da dor derradeira,

haveria uma parteira

cheia de sabedoria.

E os Reis Magos chegariam

montados em seus cavalos

e um punhado de regalos

por certo te ofertariam

e depois te adorariam

pela noite inteira até,

com Maria e com José

um chimarrão tomariam.

Eu Te imagino, Jesus,

cavalgando desde cedo,

disparando num varzedo

num potro feito de luz

e a trilha que Te conduz

coberta pelo Cruzeiro,

que seria o tempo inteiro

Tua luminosa cruz.

Tu verias refletido

Teu rosto em nossos regatos,

sem Herodes, nem Pilatos,

ou qualquer outro bandido.

O pampa imenso estendido

seria o pago do amor

onde o Filho do Senhor

foi muito bem recebido.

Tu me desculpa, Piazito,

se acaso falei besteira,

pois quero, à minha maneira,

fazer o mundo bonito

e quero porque acredito

que um dia, quando eu partir,

vais mandar alguém me abrir

a porteira do infinito.

Milton Souza
Enviado por Milton Souza em 01/12/2005
Código do texto: T79532