O Fator Caos capítulo 8: O Inspetor visita Sonia

CAPÍTULO 8

O INSPETOR VISITA SONIA


Ao retornar diante de Belle, Sonia soube pelos sensores termobiológicos da presença de mais duas pessoas em sua casa. Acionou o circuito interno e identificou-os:
— Oppenheimer e Fernando! Que estarão fazendo aqui?
— Talvez — observou Salk — eles queiram conhecer os seus aposentos secretos.
— Ele não pode estar desconfiado de nada. De qualquer forma fiquem de sobreaviso. Eu vou lá falar com eles.
Quando retornou aos seus aposentos normais, Sonia foi informada por Gislaine da presença do Inspetor Oppenheimer, na biblioteca. Quando lá chegou viu Fernando sentado, fumando um charuto Havana, e Oppenheimer examinando um grosso volume.
— Oi, amigos! – saudou, com a expressão mais despreocupada de que era capaz. — Que está lendo, inspetor?
Oppenheimer cumprimentou-a e passou-lhe o livro. Sonia leu o título:
— “Caça aos vampiros”, por Gabriel Índico. Um grande clássico do horror, do século XXVI.
— Gosta de ler essas coisas, Sonia? Você tem fileiras e mais fileiras de livros de terror e assuntos sinistros.
— São mais para rir... acredita em vampiros, inspetor?
— Francamente, não. Eu não creio em nada, só em Deus.
— Eu também creio em Deus. Mas o mal existe, inspetor, o mal em estado puro. Por isso o Pai Nosso diz: “livrai-nos do mal”. Mas sente-se, por favor. Você certamente não veio aqui discutir teologia.
— Não, certamente.
Ele sentou ao lado de Fernando. Sonia indagou:
— Querem um lanche?
— Não, obrigado. Gislaine já nos serviu um café com torradas, ela foi muito gentil.
— Sem dúvida – acrescentou Fernando, que era bem mais jovem que o inspetor. — Eu até pedi o telefone dela.
Sonia sentou-se numa poltrona em frente ao sofá escolhido pelos visitantes.
— Como ficou o caso do seqüestro?
— Muitas teorias e poucos fatos.
— Teorias, Felipe?
— Sim, teorias... o próprio Everett me veio com uma: que tudo isso é um projeto secreto dos Governos Unidos, que ninguém foi seqüestrado...
— Deixe ele comigo. E os camaradas?
— Graças ao detector estroboscópico, obtive a confissão de dois deles... além disso entrou dinheiro alto nas contas do Vassili e dos demais. O Comodoro Souza escancarou tudo: foram de fato peitados, comprados para fazer vista grossa ao seqüestro. Mas o cara que os peitou... um tal de Tito Leandro... está com jeito de nome falso, pois não achamos a menor pista...
— Mesmo? Ninguém da polícia o conhece?
— Não, e os sujeitos alegam que também não sabem direito quem é. Só sabem que foram cooptados...
— Vão ficar presos, não é?
— É lógico!
— E diga uma coisa: de onde o Everett tirou essa idéia de projeto secreto? Que tem isso a ver com a filha de um cientista?
— Ah! Mas eu contei a ele que ocorreram pelo mundo muitos seqüestros de cientistas e seus parentes. E depois disso os pais de Lita sumiram também. Você não soube?
— Não, inspetor... não tenho tido tempo de olhar as notícias...
— O que você anda fazendo, que nem os seus criados a vêem?
Sonia sorriu.
— Não tenho muita intimidade com os meus empregados. E para que? São muito limitados para o meu gosto. Se eu conversar com eles sobre a fisiologia do velociraptor, por exemplo, ficarão me olhando com cara de tacho.
— É um assunto tão interessante... — zombou Fernando.
— Mas eles dizem que você nem pára em casa — observou o inspetor, sem ligar para a interrupção.
— Eu estou namorando.
— Verdade? Até que enfim, Sonia... dou-lhe os parabéns, afinal você é humana! Não, eu não vou perguntar quem é o felizardo. Na hora certa o mundo saberá. Agora, mudando de assunto, eu estou quase certo de que Andrômeda tem algo a ver com essa história.
— Por que você acha isso?
— Você não viu o que aconteceu na semana passada?
— Sim, mas o que a Torre do Prazer pode ter a ver...
— É muito estranho. Muito em cima. Está havendo uma guerra secreta... e Luana Pomerânia é uma figura controvertida, problemática...
— Quem você acha que é Andrômeda, Oppenheimer?
— Depois de muito refletir, cheguei à conclusão de que deve ser uma mulher rica e que mora em Lorena.
— Sim? E tem alguma hipótese sobre a sua identidade?
— Acredito que seja Arlete Montenegro.
Sonia jogou o rosto para trás, rindo com gosto.
— Felipe, por favor! Não seja mais burro do que você já é! A Arlete não pode ser!
— E por que não? Você já se esqueceu da teoria dos perfis?
— Ah, sim! Você pegou essa mania depois que leu Cazzamatta... mas você acha que o perfil dela...
— Ela é por demais afetada e artificial. Parece a toda hora estar representando um papel. Além disso ela ficou o tempo todo procurando livrar a barra daqueles bonecos. Ela tem perfil misterioso.
— É, eu achei estranho também... mas daí a achar...
— Se for ela, eu descobrirei. Agora eu tenho que ir, Sonia, mas quero que você se cuide.
— Como assim, inspetor?
— Qualquer coisa me diz que você pode ser um dos próximos alvos. Seja o que for que querem com cientistas, a verdade é que nada se faz sem dinheiro. Seqüestrar magnatas pode ser o próximo passo, e você tem o perfil muito seqüestrável. Você é muito envolvida com obras sociais, com campanhas cívicas.
— Ora bolas, por que é que o prefeito não dá segurança a essa cidade? Eu pago os meus impostos em dia!
— É esperar muito do Taurus, querida. Ele não tem o perfil de um prefeito, mas de um homem de negócios meio mafioso... tipo Lex Luthor...
— Nesse ponto eu concordo. E essa tal de Luana? Ela esbravejou muito depois que derrubaram o seu lupanar de luxo. O que você acha que ela tem a ver com essa história?
— Eu só lhe digo uma coisa: é uma mulher muito desbocada, desabrida e depravada, portanto tem todo o perfil da mulher perigosa. Ela vai querer se vingar do que Andrômeda fez. E os ajudantes dela têm todos um perfil muito sinistro.
Sonia não aguentava mais ouvir falar em perfis, por isso sentiu-se aliviada quando Felipe Oppenheimer foi embora. Pediu um lanche rápido a Gislaine e comentou:
— Espero que ele não se lembre de mim tão cedo. Aturar malucos não é minha especialidade.

CONTINUA