O FATOR CAOS: EPÍLOGO

EPÍLOGO

MISSÃO CUMPRIDA


Andrômeda pulou da plataforma e procurou o painel de controle. Manipulou as teclas até provocar o fechamento do painel azul, isolando o perigoso poço.
Ouviu-se um barulho ensurdecedor. O teto ruiu e o vulto gigantesco de Liz desabou no piso metálico, a poucos metros de Andrômeda; e logo seguido de Leiber e Salk. Liz estava toda amassada, os robôs idem, e faltava metade de um braço de Salk; mas nada que não se pudesse remediar em casa, com peças de reposição.
— Vamos embora daqui! — gritou Andrômeda — Liz, abra!
O carro abriu suas portas; Andrômeda e os robôs entraram e Liz buscou a mais próxima parede externa, rebentando-a como da primeira vez. Ao saírem no vácuo, Andrômeda percebeu que o pentagrama cósmico se desvanecia rapidamente, até sumir de todo. Pouco depois, a Jamanta explodiu.
— O Padre Oronte fez um bom trabalho — disse ela modestamente.
Não lhe passou despercebido o escape de uma pequena nave auxiliar. O sapoide ao que parece seguira o seu conselho, provavelmente com outros membros da equipagem.


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Dois meses após.
Na residência de Sonia Maria Sagres, uma visita ilustre: o Inspetor Oppenheimer.
-Esse seu noivado com o Mário... me alegrou e me surpreendeu. Você tinha fama de solteirona, mas eu sabia que esse não era o seu perfil. Era tudo uma questão de oportunidade...
-Bem, eu sempre fui perfeccionista, inspetor. E muito exigente, a começar por mim mesma.
-Estou contente também de saber que Arlete voltou às boas com você. Ela é uma cabeça-dura, mas afinal não gostou de saber que tinha uma gang na sua criadagem.
Andrômeda – perdão, Sonia – sorveu um pouco do refresco de camu-camu e observou:
-Você acredita em tudo o que contaram?
-Se acredito na teoria da conspiração? Não, eu não acredito, e não acredito na lei de Murphy. Para mim, ET’s do universo do caos são um absurdo.
-Mas mesmo assim... você sabe que eu conversei com a Lita... mas os cientistas e seus parentes, vítimas de seqüestro, confirmaram aquele horror todo...
-Isso transcende muito a minha humilde pessoa. O próprio presidente anistiou Andrômeda e, curiosamente, ela não apareceu nem para agradecer.
-Inspetor, acreditava se eu lhe dissesse que eu sou Andrômeda?
O homem riu, numa gargalhada estrondosa.
-É claro que não, Sonia! Seu perfil não tem nada a ver! Você é a mulher organizada e metódica... e Andrômeda é uma improvisadora.
-E quem será Andrômeda, afinal?
-Eu fiz um estudo, em meu computador, de todas as mulheres que conheço e afinal descobri a que se enquadra melhor no perfil de Andrômeda. Infelizmente ela tem um álibi perfeito para o dia em que Andrômeda se encontrava lá no espaço interestelar; só me resta concluir que Andrômeda é uma mulher que eu não conheço.
-Que álibi é esse?
-Ela estava comigo. É a minha esposa.
-Oh! – e Sonia não conseguiu dizer mais nada.
-Mas é claro – prosseguiu Oppenheimer – ela pode ter programado um robô para substituí-la.
-Coitada da Gema... – murmurou Sonia.
O inspetor terminou o seu chá de jenipapo e se despediu.
-Se um dia você encontrar Andrômeda, Sonia, diga-lhe para me visitar. Afinal ela foi anistiada e pode aparecer sem susto e sem tirar a máscara. Gostaria que ela colaborasse com a polícia e também gostaria muito de estudar melhor o seu perfil. Talvez possamos aperfeiçoar o perfil dos nossos detetives.
Tapthes, o jardineiro oriundo do Arquipélago Artificial do Alcaçuz, veio anunciar uma nova visita:
-O Sr.Glickus Sipk.
-Mande-o entrar – disse Sonia.
-Pois não, senhora.
O jardineiro se foi, coxeando como de costume, e o policial observou:
-Esse seu empregado é um tipo exótico... mas eu ainda não pude examinar melhor o seu perfil.
O inspetor cumprimentou Glickus e se foi. Depois que ele fechou a porta atrás de si, Sonia perguntou ao amigo:
-Glickus, como está o meu perfil?
-Hein?
Sonia fez um gesto tipo “deixa-pra-lá”:
-Desculpe, não ligue para o que eu disse. É que loucura é contagiosa. Mas vamos sentar.
Glickus sentou no melhor sofá da sala e Sonia acionou por controle remoto a mesinha-garçonete, que veio cheia de acepipes e bebidas.
Glickus contemplou por alguns instantes a estátua de São Miguel Arcanjo, que portava um filactério com a frase “Quem é como Deus?”, serviu-se de chocolate quente com conhaque e falou:
-Você parece mais tranqüila, Sonia.
-Sim, sem dúvida. Você também. Passamos por um período de muita tensão.
-Descobrir que você é Andrômeda aumentou muito o conceito em que eu a tinha. Mas o mais incrível é que o inspetor não tenha descoberto.
-Dou graças aos Céus pelos métodos que ele usa.
-O que será de Andrômeda? – Glickus cortou bruscamente o assunto do
inspetor.
-Vou ver Frei Jiri, para que ele me desobrigue do voto, e tratarei do meu casamento com Mário. Mas a guerreira Andrômeda poderá voltar a agir, se houver necessidade – como a Esfinge Negra...
-A Esfinge Negra?
-Regina Siljan. Eu a conheci anos atrás, no setor de Sérvius, ela e o seu turbilhão de cores. Ficamos amigas, mas ela tinha a missão dela e eu a minha. Nós nos separamos, mas eu soube que a sua nave Alcione cessou a guerra, depois que ela derrotou o pirata Nestomar. Agora ela é uma assistente social cósmica. Eu também vou tratar das obras de caridade, agora que o mal foi aparentemente derrotado.
-O mal voltará, Sonia. Um dia.
-Mas quando? Se for daqui a alguns séculos, não é mais comigo.
-O que eu admiro em você, Andrômeda, é que você nunca trepidou... nunca hesitou... diante dos perigos mais apavorantes e da diferença de forças em questão, você seguiu numa linha reta sem vacilação, até a vitória final. De onde você tira essa força interior, Andrômeda?
A moça respondeu na ponta da língua:
-De Deus.










FIM